sexta-feira, 11 de março de 2011

8,9


(...)Ó infelizes mortais! Ó deplorável terra! Ó agregado horrendo que a todos os mortais encerra! Exercício eterno que inúteis dores mantém! Filósofos iludos que bradais «Tudo está bem»; Acorrei, contemplai estas ruínas malfadas, Estes escombros, estes despojos, estas cinzas desgraçadas, Estas mulheres, estes infantes uns nos outros amontoados Estes membros dispersos sob estes mármores quebrados Cem mil desafortunados que a terra devora, Os quais, sangrando, despedaçados, e palpitantes embora, Enterrados com seus tectos terminam sem assistência No horror dos tormentos sua lamentosa existência! Aos gritos balbuciados por suas vozes expirantes, Ao espectáculo medonhos de suas cinzasfumegantes, Direis vós: «Eis das eternas leis o cumprimento, Que de um Deus livre e bom requer o discernimento?» Direis vós, perante tal amontoado de vítimas: «Deus vingou-se, a morte deles é o preço de seus crimes?» Que crime, que falta cometeram estes infantes Sobre o seio materno esmagados e sangrantes?

Voltaire, Poema sobre o desastre de Lisboa