Não gosto do Gilberto Dimenstein, mas tenho que concordar com ele: o povo de São Paulo realmente acha que a melhor maneira de tratar viciados, revoltosos ou qualquer manifestação é na base da porrada.
Em algum momento de sua história (talvez o tempo que ficaram sob a administração do senhor Paulo Salim) o paulistano - e em boa parte, o paulista também - assumiu para si uma postura feroz, e não raro sai em defesa de seu cosmopolitismo vazio.
O paulistano passou a acreditar no lema de "locomotiva do Brasil", achar que os problemas sociais não são culpa dele, mas de nordestinos, pobres, sindicalistas, etc.
É ver pelas pesquisas: 82% aprovam a ação vergonhosa da Polícia na cracolândia, enquanto o Celso Russomano - filhote clássico do Maluf - volta ao cenário político como favorito à prefeitura.
O paulistano não se considera parte do mesmo país que o nordestino, que o goiano, etc.
Ele não quer "pagar" pelos seus compatriotas, porque esses, segundo sua filosofia, são os únicos culpados pelas suas próprias mazelas sociais.
Assim como o viciado é o único culpado pelo próprio vício.
O estudante tem que parar de se manifestar pelos seus direitos e estudar para a melhoria de São Paulo (não do país, veja bem).
Quem não tem moradia tem que deixar de ser vagabundo e ir atrás de trabalhar, já que São Paulo é a terra das oportunidades, há emprego para todos.
As leis que surgem esporadicamente pelo estado também demonstram um modus operandi conservador: leis de toque de recolher, repressões violentas contra manifestações, ocupações...
E o mais sério: NENHUM PROJETO SOCIAL.
O paulista critica o governo federal, pois o governo federal só olha para os estados mais pobres: isso é assistencialismo.
Se o governo federal fosse menos bunda mole (e interesseiro), interviria em São Paulo.
Mas o paulista acha que "venceu" a "Revolução de 32".
Acham-se salvadores do Brasil, promulgadores da liberdade, fundadores da constituição.
Mas não são necessariamente parte do mesmo país que nortistas, baianos, gaúchos...
Como encontramos na Wikipédia, Monteiro Lobato pensava assim:
"Após a vitória de São Paulo, na campanha ora empenhada, se faz mistér que seus dirigentes não se deixem embalar pelas ideias sentimentais de brasilidade, irmandade e outras sonoridades.[...] Ou São Paulo desarma a União e arma-se a si próprio, de modo a dirigir doravante a política nacional a seu talento e em seu proveito, ou separa-se.[...] Trata-se de uma guerra de independência disfarçada em guerra constitucionalista...[22]"
Muitos em São Paulo ainda pensam assim, pode ter certeza.
O paulista perdeu a vergonha.
E esse é o principal motivo pelo qual o diálogo inexiste em São Paulo.
O paulista vota em Maluf, Alckmin, Serra, Russomano e Kassab porque eles representam a filosofia de direita, com a qual o paulista se identifica.
Não adianta mais, politicamente, esperar outro comportamento.
Não adianta falar em ações sociais, em humanismo...
O Paulista quer a PM que tem, na rua, batendo em pobre e drogado.
Quer seu filho no lugar do pobre nas universidades.
Não quer dividir espaço com o nordestino.
Não quer caminhar pela rua e ver um mendigo.
Não tenho ilusões mais quanto à São Paulo.
É só ver os comentários ao texto de Dimenstein.
O paulista tem a São Paulo que quer.
E não quer mudá-la.