sexta-feira, 13 de julho de 2012

Melhores álbuns do primeiro semestre 5 - 2012

http://blog.julianamoreira.se/tag/abba/

Bem, finalmente encerro a minha semana dos reviews dos melhores álbuns do primeiro semestre de 2012. Foram 10 álbuns, dois reviews por dia, mais umas coisas a mais que inclui nas postagens. A lista era bem maior, mas resumi pra dez e acho que consegui um bom número. Esses dez, naturalmente, são fortíssimos candidatos a melhor disco do ano, tanto em minha opinião quando na opinião de muita gente da mídia especializada por aí. Mas, como era apenas uma prévia, resolvi não impor aos discos uma ordem de importância e nem me preocupei em juntá-los por estilo ou qualquer outra possível delimitação. Por coincidência, os dois discos que eu comento hoje são da Suécia... não, a quem eu quero enganar? Não é coincidência.
O fato é que a Suécia tem produzido música de altíssima qualidade há muito tempo, e não me surpreende ter mais discos na minha HD desse país que do meu próprio país. E não é só no âmbito do heavy metal, de lá vem também Moon Safari, Jens Lekman, The Hives, e várias outras bandas boas do passado e do presente. Não sei se é a situação econômica, a educação, a tradição... mas sei que, pra mim, a Suécia deixou de ser apenas a terra de origem de meia dúzia de bandas mais ou menos de death metal pra virar um campo extremamente prolífico de criatividade pura!
E, animado pelo amigo de Puxa Cachorra, Arthur Malaspina, eu resolvi dar um troféu ao fim das resenhas, para aquele consagrado como o melhor disco do semestre: o APOLO DE PRATA! E, por isso, resolvi deixar para o final os dois competidores principais pelo prêmio, que muito me deu dor de cabeça na hora de decidir. Claro que, no fim do ano, quando eu fizer a lista oficial dos melhores do ano, eu entregarei o APOLO DE OURO para o campeão! Boa Malaspina!


Bem, além disso, resolvi ressuscitar o player lateral do site com músicas de quase todas as bandas que citei nesses dias (espero que entendam as ausências, já que é meio difícil achar Eye e Ufomammut por aí) e algumas coisas que ficaram de fora, pra quem quiser ir ouvindo a hora que der na telha e descobrir coisas bacanas!
Bem, vamos ao prato principal agora!

http://www.angrymetalguy.com/sabaton-carolus-rex-review/

Sabaton
País: Svenska
Álbum: Carolus Rex
Estilo: Power metal


Comentário: Muitas vezes o power metal me enche o saco. Das vertentes do heavy metal, pra mim, só perde pro black metal e pro metal sinfônico estilo "a bela e a fera" na falta de criatividade. A regra: falar de mundo medieval, dragões, aço e coisas do tipo. Por isso, a primeira vez que ouvi Sabaton, foi um alento ver que eles quebravam as barreiras do gênero ao falar de um tema único, guerra, mas abordar qualquer período. Desde as batalhas da segunda guerra mundial até coisas mais antigas, o Sabaton tinha uma fagulha de originalidade no mundo de fantasia e gnomos do power metal. Gostei muito, por exemplo, de Primo Victoria, o primeiro que ouvi deles, mas uma coisa eu sentia no Sabaton que me incomodava: parecia que seus álbuns tinham uma música excepcional e as outras nem chegavam perto, caso do disco que citei. E, quando soube que eles iam fazer um álbum focado em um único tema, já fiquei meio com o pé atrás.
Ledo engano. Carolus Rex não é apenas o melhor álbum da carreira do Sabaton, mas um dos melhores álbuns de power metal que já ouvi.
Desde o início o clima épico se impõe com a introdução Dominim Maris Baltici e se estende em Lejonet från Norden, da maneira que deveria ser sempre em álbuns dessa vertente, mas muitas vezes não se consegue. A pancadaria não para com Gott mit uns, e o que dizer da epicidade de En livstid i krig? Essa música é a prova que uma balada não precisa, necessariamente, ser menos épica que o resto das músicas do álbum só porque é mais lenta.
A seguir, temos 1648, e parece interessante lembrar que o disco trata do período conturbado do governo de Carlos XII, monarca sueco que dominou todo o norte da Europa na Grande Guerra do Norte e comandou uma ofensiva poderosa, que culminou no fim do Império Sueco. Venceu inúmeras batalhas sem trolls, magos ou dragões. Aliás, o disco vai bem além disso, como destaca em detalhes a resenha muito bem escrita, como sempre, do Angry Metal Guy, que organiza os eventos narrados no álbum do Sabaton.
É uma música mais foda que a outra. Karolinens bön é lindíssima, emocionante mesmo, com seu clima cinematográfico todo carregado pelo baixo e pelo cada vez melhor vocal de Joakim Brodén. Calolus Rex vem logo em seguida, com sua introdução esmagadora e uma bateria marcando a marcha com precisão (é o primeiro trabalho do Robban Bäck com o Sabaton, e que puta trabalho). Mesmo sem saber uma palavra de Sueco eu canto junto esse refrão, de tão empolgante que ele é. E vem Ett slag färgat rött e sua melodia que lembra os melhores momentos do NWOBHM dos anos 80 e Poltava, sobre a famosa batalha contra os russos, que carrega toda a dramaticidade da derrota do rei em cada linha. E assim, o disco ruma para um final apoteótico, com as pancadas Long Live the King e Ruina Imperii. Impressionante como, mesmo com 11 faixas, algumas de tamanho até razoável, o disco não perde o fôlego.
Aliás, é bom lembrar que o disco existe em inglês também. Mas ouça só a título de curiosidade ou para entender melhor as letras, porque não tem a mesma graça. Não, não é purismo, é que parece que, ao  optarem por cantar em sua língua original, os caras se entregaram mais à proposta. Mesmo sem entender uma única palavra, eu sinto muito mais feeling no disco em sueco que em inglês, de verdade.
Lembram do que eu disse sobre ter apenas uma música de destaque? Pois Carolus Rex funciona como conjunto tão bem quanto os melhores álbuns conceituais de rock progressivo ou heavy metal que tem por aí. É a obra prima do Sabaton e um disco obrigatório pra qualquer fã do gênero, de história, da Suécia ou de música em geral. E fico feliz que, com tanto potencial demonstrado até então, o Sabaton finalmente tenha acertado a mão!




Nota: 10 Apolos e Länge leve Svenska!





http://www.earsplitcompound.com/site/2012/04/25/diablo-swing-orchestra-to-release-new-album-stateside-via-sensory-records/

Diablo Swing Orchestra
País: Suécia
Álbum: Pandora's Piñata
Estilo: avant garde metal/cabaret/swing/o que couber na bagunça


Comentário: Muita gente idolatra a produção do rock brasileiro dos anos 80, principalmente seus "poetas" Renato Russo e Cazuza. Não que eles sejam ruins, mas se analisarmos com atenção, veremos que todas as melhores produções musicais dessa década do nosso rock foram as que fugiram da sobriedade e sisudez desses caras e que procuraram fazer música que oscilava entre o popular, o dançante e a criatividade pura. Aqueles que se dedicaram a divertir ao invés de - ou ao mesmo tempo que - fazer pensar. Principalmente porque essa galera toda era filha de uma cruza muito bem engendrada do ska com o punk, que aparece em Ultrage a Rigor, no melhor que os Paralamas e os Titãs produziram e na Blitz, em grande parte. É só ver que uma das maiores bandas de rock de todos os tempos, The Clash, brilhou com um ska maneiríssimo em Rock the Casbah em 1982.
Porque comecei falando de rock brasileiro pra falar dos suecos da Diablo Swing Orchestra? Porque essa banda se sustenta num tripé que está muito bem delimitado pelo seu nome, e que aparece em cada uma das músicas de Pandora's Piñata: é diabólica no seu lado metal, que por vezes é bem mais agressivo do que se espera, mas sempre se mescla com as outras propostas de maneira surpreendente (Mass Rapture); é orquestrada, pois abusa, mas com parcimônia, de elementos de música clássica, principalmente nos vocais belíssimos de Annlouice Loegdlund (Aurora) ou nas ousadas passagens onde parecemos ouvir mais uma orquestra mesmo que uma banda  de rock (Justice for Saint Mary); e é swing puro em quase todas as suas músicas, onde ficam evidentes elementos de ska e punk, pontuados precisamente como um Ultraje a Rigor na sua clássica (e até hoje uma das melhores músicas da história do rock nacional) "Nós vamos invadir sua praia" ou ainda da "Sonífera Ilha", música da época em que o Titas ainda não era chato (eles só se limitavam a ser uma cópia meia boca do Devo, mas era muito melhor assim).
O maior exemplo disso que estou defendendo é a própria introdução de Black Box Messiah, que possui melodia muito parecida com a da música do Ultraje e de várias outras bandas dos anos 80 no Brasil. E logo depois que os metais entram (metais que são essenciais no ska) entra o coro de vozes quase infantis, que mostra que essa música não é feita pra ser levada a sério, mas para dançar que nem um doido.
E não dá pra ficar parado com a rumba de Guerrilla Laments ou mesmo a alegria incontida de Voodoo Mon Amour. O Diablo Swing Orchestra tem lá seus momentos sérios (como em Exit strategy of a wrecking ball, que me lembrou muito Muse!), mas em geral é mais feito pra pular e dançar. Eu tocaria Voodoo Mon Amour numa pista de dança de qualquer balada por aí, sem medo. E quem disse que música pra dançar não pode ser criativa?
O disco Pandora's Piñata é simplesmente formidável, inventivo, numa carreira já maravilhosa desse pessoal que faz algo que eu nunca havia visto na música - e eu que achava que Sing along songs for damned and delirious era insuperável. E, aproveitando a ausência de qualquer música brasileira nessa listagem, eu faço um pedido sincero que o rock esqueça de seus ídolos sisudos, cantoras pseudo-intelectuais de boteco, poetinhas de fim de semana e de ficar criticando o Restart à toa pra retornar ao tempo de Inimigos do Rei, Ultraje, Blitz, Gang 90, Magazine e outros tantos que usaram criatividade e irreverência pra fazer boa música. É, pra mim, a mensagem de um disco como esse: dá pra fazer boa música, criativa, ousada e ainda assim fazer dançar. E, sem compromisso, fizeram o melhor disco que eu ouvi nesse primeiro semestre de 2012.




Nota: 10 Apolos  

e o Apolo de Prata de melhor disco do semestre!
(Sim, eu sei que ele não está prateado, e sim azul. Não sei fazer esse tipo de edição. Me processem.)  

Bem, agora preciso ir para a curtição, que HOJE É DIA DO ROCK, BEBÊ!!

Abraços e inté outra hora!