terça-feira, 27 de dezembro de 2011

O sacerdote e o Big Brother


Primeiro, leiamos o que diz a palavra do Senhor:

" 25. Levantando-se um doutor da lei, experimentou-o, dizendo: Mestre, que farei para herdar a vida eterna? 26. Respondeu-lhe Jesus: Que é o que está escrito na Lei? como lês tu? 27. Respondeu ele: Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de toda a tua força e de todo o teu entendimento, e ao teu próximo como a ti mesmo. 28. Replicou-lhe Jesus: Respondeste bem; faze isso, e viverás. 29. Ele, porém, querendo justificar-se, perguntou a Jesus: E quem é o meu próximo? 30. Prosseguindo Jesus, disse: Um homem descia de Jerusalém a Jericó, e caiu nas mãos de salteadores que, depois de o despirem e espancarem, se retiraram, deixando-o meio morto. 31. Por uma coincidência descia por aquele caminho um sacerdote; quando o viu, passou de largo. 32. Do mesmo modo também um levita, chegando ao lugar e vendo-o, passou de largo. 33. Um samaritano, porém, que ia de viagem, aproximou-se do homem e, vendo-o, teve compaixão dele. 34. Chegando-se, atou-lhe as feridas, deitando nelas azeite e vinho e, pondo-o sobre o seu animal, levou-o para uma hospedaria e tratou-o. 35. No dia seguinte tirou dois denários, deu-os ao hospedeiro e disse: Trata-o e quanto gastares de mais, na volta eu to pagarei. 36. Qual destes três te parece ter sido o próximo daquele que caiu nas mãos dos salteadores? 37. Respondeu o doutor da lei: Aquele que usou de misericórdia para com ele. Disse-lhe Jesus: Vai-te, e faze tu o mesmo. "

– S:Tradução Brasileira da Bíblia/Lucas/XI

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O doutor da lei busca saber de quem é o reino dos céus, quem terá direito a vida eterna.

Jesus, o Cristo, acolheu ladrões, prostitutas e outros considerados excluídos.

Não apenas excluídos. Criminosos.

Pessoas que fogem ao comportamento dito "normal".

Quem terá direito a vida eterna?

O homem que salvou aquele que estava à beira da morte não se importou em ver quem este era.

Não importou a cor, a nacionalidade, a origem.

Importou fazer o bem.

Acolher o outro, independente de quem é esse outro: esse é um dos cernes da cristandade.

Quando alguém propõe "mudar" o outro, o está acolhendo?

Cristo não mudou os ladrões, as prostitutas, os bandidos.

Ele apenas olhou para eles, quando ninguém mais olhava.


Os acolheu e lhes deu uma filosofia nova de vida, que os incluía.

O reino dos céus era deles, dos desfavorecidos, não dos endinheirados sacerdotes do templo.

Se eles mudaram de vida baseados no discurso dele, foi porque antes ele os aceitou como eles eram.

Mas nunca foi a intenção de Jesus mudá-los.

Um verdadeiro cristão é aquele que acolhe, sem julgar.

Se o acolhido assim deseja mudar, ele muda.

Se não, ele ainda assim terá espaço na casa de Deus.

Não será excluído porque seu comportamento é moralmente equivocado.

Aliás, a moral é segundo plano pra Jesus.

Não se julga a moral de quem vive numa vida marginal.

De minorias, de excluídos.

Você simplesmente acolhe, essa é a profissão de fé.

Jesus não evangelizou ninguém.

Ele curou, ele profetizou e discursou.

Quem o seguiu, seguiu porque quis.

O que a parábola nos ensina, a longo prazo?

Que o preconceito é sempre preconceito, e quem tem preconceito sempre está errado.

Jesus Cristo foi um dos maiores combatentes contra o preconceito.

O preconceito era substituído pelo amor, amor esse incondicional.

O verdadeiro cristão é aquele que ama o próximo, que dá a cara a tapa.


Não é, me desculpem, o discurso de Silas Malafaia.

Muito menos da bancada parlamentar Evangélica da nossa Câmara dos Deputados e Senado.

Apoiando-se num conceito engessado de família, que nada diz de claro e objetivo sobre a nossa sociedade, eles defendem a moral e pregam uma certa "liberdade de expressão" que os garanta o direito de criticar o comportamento dos homossexuais.

Bem, se você está no púlpito de sua seita, você fala o que bem quer pra quem quer ouvir.

Se o púlpito de sua seita se localiza na tevê que todos assistem, você NÃO tem esse direito.

Tevê, gente, é uma concessão pública.

Ninguém tem o direito de falar o que bem entende na tevê!

E isso não tem nada a ver com liberdade de expressão.


É o que defende o deputado federal Jean Wyllys, ao atacar as mudanças do atual texto da PLC 122, a famigerada "lei da homofobia".

Sim, ele mesmo, aquele do BBB.

Ele é deputado federal pelo PSOL do Rio de Janeiro.

É um homem esclarecido, sério, articulado e muito didático na sua explicação.

Não apela pra gritaria, pra fé, pra nada do tipo.

Ele explica. É professor, essa é sua profissão.

Poderia passar por apenas mais uma "celebridade" da câmara.

Que entrou pelo voto popular, que o brasileiro da classe média e da elite insiste em criticar.

Mas o Tirica faz mais na câmara que o Maluf.

O Romário e o Popó também.

Isso não diz que eles devem ser idolatrados, nem que o tal voto "de protesto" seja algo bom.

Só me faz pensar o que tem na cabeça uma pessoa que critica sua empregada que vota no campeão do BBB e vai lá e vota no Jader Barbalho.

Mas voltando...

A Assembleia de Deus, bem como quase todas as igrejas, tem algum representante na chamada bancada cristã na Câmara e no Senado.

Quem os elegeu o fez por estar submetido a um sistema muito simples, mas sujo, de coerção.

É um ato de fé.

Meu pastor não me representa: ele representa Deus.

Assim, se põe na câmara alguém que defende os interesses de uma ala extremamente conservadora da sociedade baseada no poder da palavra de Deus, e não nas suas ações.

Não imposta sua índole, suas propostas.

Votar se resume a um ato de fé.

Conheço evangélicos gays, católicos gays.

Que, aliás, não abandonaram a sua fé.

Mas eles são representados por gente como Magno Malta?

Que faz do Senado um culto religioso?

Que tem a pachorra de defender em rede nacional de televisão que a pedofilia DERIVA do comportamento homossexual?

Claro. Todo homossexual é libertino.

Libertinagem (ai Sodoma!) é sinônimo de viadagem.

Pois bem.

Seu Jesus Cristo acolheria os homossexuais.

Seu Jesus Cristo os levaria pra casa, os daria de comer.

Seu Jesus Cristo defenderia eles contra as injustiças.

Seu Jesus Cristo os amaria incondicionalmente, sem cobrar que o seguissem.

Todos os cristãos homofóbicos não são cristãos.

Não merecem esse nome, nem o Reino de Deus.

Todas as igrejas que propagam a homofobia como "liberdade de expressão" são promulgadoras do ódio.

O Cristão de verdade propaga o amor.

É o que a parábola do bom samaritano nos fala.

Não me impressiona que um dos textos mais famosos da Bíblia, um texto tão antigo, seja assim ignorado pelos pregadores da palavra.

A palavra de Cristo é mais moderna e atual que o comportamento de Silas, de Ratzinger, e da maioria dos religiosos.

Se os cristãos fossem mais parecidos com Cristo que com os seus pregadores, viveríamos numa sociedade bem melhor.