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terça-feira, 27 de dezembro de 2011

O sacerdote e o Big Brother


Primeiro, leiamos o que diz a palavra do Senhor:

" 25. Levantando-se um doutor da lei, experimentou-o, dizendo: Mestre, que farei para herdar a vida eterna? 26. Respondeu-lhe Jesus: Que é o que está escrito na Lei? como lês tu? 27. Respondeu ele: Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de toda a tua força e de todo o teu entendimento, e ao teu próximo como a ti mesmo. 28. Replicou-lhe Jesus: Respondeste bem; faze isso, e viverás. 29. Ele, porém, querendo justificar-se, perguntou a Jesus: E quem é o meu próximo? 30. Prosseguindo Jesus, disse: Um homem descia de Jerusalém a Jericó, e caiu nas mãos de salteadores que, depois de o despirem e espancarem, se retiraram, deixando-o meio morto. 31. Por uma coincidência descia por aquele caminho um sacerdote; quando o viu, passou de largo. 32. Do mesmo modo também um levita, chegando ao lugar e vendo-o, passou de largo. 33. Um samaritano, porém, que ia de viagem, aproximou-se do homem e, vendo-o, teve compaixão dele. 34. Chegando-se, atou-lhe as feridas, deitando nelas azeite e vinho e, pondo-o sobre o seu animal, levou-o para uma hospedaria e tratou-o. 35. No dia seguinte tirou dois denários, deu-os ao hospedeiro e disse: Trata-o e quanto gastares de mais, na volta eu to pagarei. 36. Qual destes três te parece ter sido o próximo daquele que caiu nas mãos dos salteadores? 37. Respondeu o doutor da lei: Aquele que usou de misericórdia para com ele. Disse-lhe Jesus: Vai-te, e faze tu o mesmo. "

– S:Tradução Brasileira da Bíblia/Lucas/XI

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O doutor da lei busca saber de quem é o reino dos céus, quem terá direito a vida eterna.

Jesus, o Cristo, acolheu ladrões, prostitutas e outros considerados excluídos.

Não apenas excluídos. Criminosos.

Pessoas que fogem ao comportamento dito "normal".

Quem terá direito a vida eterna?

O homem que salvou aquele que estava à beira da morte não se importou em ver quem este era.

Não importou a cor, a nacionalidade, a origem.

Importou fazer o bem.

Acolher o outro, independente de quem é esse outro: esse é um dos cernes da cristandade.

Quando alguém propõe "mudar" o outro, o está acolhendo?

Cristo não mudou os ladrões, as prostitutas, os bandidos.

Ele apenas olhou para eles, quando ninguém mais olhava.


Os acolheu e lhes deu uma filosofia nova de vida, que os incluía.

O reino dos céus era deles, dos desfavorecidos, não dos endinheirados sacerdotes do templo.

Se eles mudaram de vida baseados no discurso dele, foi porque antes ele os aceitou como eles eram.

Mas nunca foi a intenção de Jesus mudá-los.

Um verdadeiro cristão é aquele que acolhe, sem julgar.

Se o acolhido assim deseja mudar, ele muda.

Se não, ele ainda assim terá espaço na casa de Deus.

Não será excluído porque seu comportamento é moralmente equivocado.

Aliás, a moral é segundo plano pra Jesus.

Não se julga a moral de quem vive numa vida marginal.

De minorias, de excluídos.

Você simplesmente acolhe, essa é a profissão de fé.

Jesus não evangelizou ninguém.

Ele curou, ele profetizou e discursou.

Quem o seguiu, seguiu porque quis.

O que a parábola nos ensina, a longo prazo?

Que o preconceito é sempre preconceito, e quem tem preconceito sempre está errado.

Jesus Cristo foi um dos maiores combatentes contra o preconceito.

O preconceito era substituído pelo amor, amor esse incondicional.

O verdadeiro cristão é aquele que ama o próximo, que dá a cara a tapa.


Não é, me desculpem, o discurso de Silas Malafaia.

Muito menos da bancada parlamentar Evangélica da nossa Câmara dos Deputados e Senado.

Apoiando-se num conceito engessado de família, que nada diz de claro e objetivo sobre a nossa sociedade, eles defendem a moral e pregam uma certa "liberdade de expressão" que os garanta o direito de criticar o comportamento dos homossexuais.

Bem, se você está no púlpito de sua seita, você fala o que bem quer pra quem quer ouvir.

Se o púlpito de sua seita se localiza na tevê que todos assistem, você NÃO tem esse direito.

Tevê, gente, é uma concessão pública.

Ninguém tem o direito de falar o que bem entende na tevê!

E isso não tem nada a ver com liberdade de expressão.


É o que defende o deputado federal Jean Wyllys, ao atacar as mudanças do atual texto da PLC 122, a famigerada "lei da homofobia".

Sim, ele mesmo, aquele do BBB.

Ele é deputado federal pelo PSOL do Rio de Janeiro.

É um homem esclarecido, sério, articulado e muito didático na sua explicação.

Não apela pra gritaria, pra fé, pra nada do tipo.

Ele explica. É professor, essa é sua profissão.

Poderia passar por apenas mais uma "celebridade" da câmara.

Que entrou pelo voto popular, que o brasileiro da classe média e da elite insiste em criticar.

Mas o Tirica faz mais na câmara que o Maluf.

O Romário e o Popó também.

Isso não diz que eles devem ser idolatrados, nem que o tal voto "de protesto" seja algo bom.

Só me faz pensar o que tem na cabeça uma pessoa que critica sua empregada que vota no campeão do BBB e vai lá e vota no Jader Barbalho.

Mas voltando...

A Assembleia de Deus, bem como quase todas as igrejas, tem algum representante na chamada bancada cristã na Câmara e no Senado.

Quem os elegeu o fez por estar submetido a um sistema muito simples, mas sujo, de coerção.

É um ato de fé.

Meu pastor não me representa: ele representa Deus.

Assim, se põe na câmara alguém que defende os interesses de uma ala extremamente conservadora da sociedade baseada no poder da palavra de Deus, e não nas suas ações.

Não imposta sua índole, suas propostas.

Votar se resume a um ato de fé.

Conheço evangélicos gays, católicos gays.

Que, aliás, não abandonaram a sua fé.

Mas eles são representados por gente como Magno Malta?

Que faz do Senado um culto religioso?

Que tem a pachorra de defender em rede nacional de televisão que a pedofilia DERIVA do comportamento homossexual?

Claro. Todo homossexual é libertino.

Libertinagem (ai Sodoma!) é sinônimo de viadagem.

Pois bem.

Seu Jesus Cristo acolheria os homossexuais.

Seu Jesus Cristo os levaria pra casa, os daria de comer.

Seu Jesus Cristo defenderia eles contra as injustiças.

Seu Jesus Cristo os amaria incondicionalmente, sem cobrar que o seguissem.

Todos os cristãos homofóbicos não são cristãos.

Não merecem esse nome, nem o Reino de Deus.

Todas as igrejas que propagam a homofobia como "liberdade de expressão" são promulgadoras do ódio.

O Cristão de verdade propaga o amor.

É o que a parábola do bom samaritano nos fala.

Não me impressiona que um dos textos mais famosos da Bíblia, um texto tão antigo, seja assim ignorado pelos pregadores da palavra.

A palavra de Cristo é mais moderna e atual que o comportamento de Silas, de Ratzinger, e da maioria dos religiosos.

Se os cristãos fossem mais parecidos com Cristo que com os seus pregadores, viveríamos numa sociedade bem melhor.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

"Como diz a Bíblia" - Documentário.

O Documentário "Como diz a Bíblia" é uma reflexão sobre religiosidade e tolerância. Não terminei ainda de assisti-lo, mas só a primeira parte já me chamou a atenção.


Ele trata sobre a relação entre as religiões e a homossexualidade. É um documentário premiado e importantíssima reflexão acerca da intolerância.



O discurso contra a homossexualidade se propaga com força, e os palanques e altares religiosos têm sido os principais veículos desse discurso.



Boa parte da discussão é baseada na própria Bíblia, pois ela é a fonte primeira das alegações dos defensores da homofobia. Mas o que a Bíblia diz sobre homossexualidade?





Assistam, vale a pena.

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

A Frente de Direita - Parte 1: Direitopatia e Homossexualidade

Antes de tudo, um aviso importante: esse texto é diferente dos demais desse blog. Ele será longo, pela necessidade de explanar o assunto de maneira mais clara possível, e pela miríade de eventos e situações que nos conduzem às conclusões aventadas. A idéia, aqui, é expor todas as vertentes da idéia de Direitopatia, pois esse texto, antes de tudo, é um alerta. Um alerta contra uma concepção de mundo anacrônica, perigosa e em crescente expansão. Podem encarar isso como um manifesto, uma reflexão ou apenas um desabafo, mas o tom que eu busco é, o máximo possível, de um ensaio crítico.
Tentei evitar a postura mais abertamente sarcástica e mau humorada dos meus outros textos do blog, pois acho que não combina com a discussão de um assunto no nível que quero empregá-lo. A tese que lanço aqui não é nova, mas tento dar a minha visão - e, espero, contribuição - sobre o fenômeno do crescimento da direita no nosso país e no mundo. Para tanto, dividi o texto em partes. A primeira traz a introdução à minha concepção de Direitopatia (que como termo, aliás, já é popular na internet bem antes de mim) e a explicação desta mediante o exemplo da homofobia. A segunda, que espero colocar aqui em breve, trará a minha análise do fenômeno da fé aliada a repressão e ao modelo capitalista neoliberal. Advirto, porém, que não sou sou sociólogo, tampouco teórico político ou membro de qualquer entidade social; sou antes de tudo uma pessoa assustada com os rumos da sociedade atual.

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Esquerdopatia: termo cunhado, até onde sei, pelo colunista da Revista Veja Reinaldo Azevedo, para definir um comportamento social, para ele uma "patia", que rege as ações de alinhados a uma esquerda cega e burra. Basicamente, é como se se interpretasse Marx à risca, se fechasse os olhos para os crimes cometidos por Mao, Stálin e outros em prol da bandeira do comunismo. O colunista já deixou por vezes claro que não apenas é contra a esquerda, mas que considera-a nefasta o suficiente para ser encarada como uma doença, que cresce epidemicamente entre algumas parcelas da população desde que Lula se tornou presidente. Um dos sinais claros desce crescimento seria o surgimento na internet de grupos de blogueiros, dentre eles alguns jornalistas famosos como Paulo Henrique Amorim, Luís Nassif e Luiz Carlos Azenha, que se intitulam blogueiros "progressistas", defensores de uma idéia chamada PIG. O PIG é uma sigla para "Partido da Imprensa Golpista", um conglomerado de forças de imprensa - formado por Globo, Abril e sua revista Veja, os Saad da Band, Folha de SP, etc. - cujo objetivo seria minar oposições contrárias à custo do exercício do seu poder de mídia de massa, pelo qual minariam seus inimigos.

Acho que uma idéia criada por um opositor da esquerda nunca foi tão adequada para definir a direita.

Destaquei, em negrito, trechos que unidos podem nos fazer entender a postura histórica da direita, e que podem configurar uma Direitopatia.

- Apenas estou usando a lógica da semiótica: para existir uma cadeira, deve existir uma não-cadeira que define a cadeira como tal.

Direitopatia: define um comportamento social, uma "patia", que rege as ações de alinhados a uma direita cega e burra. Basicamente, é como se se interpretasse a Bíblia à risca, se fechasse os olhos para os crimes cometidos por Vaticano, EUA e outros em prol da bandeira do capitalismo.

Podemos encarar a nossa sociedade atual sob o olhar da direitopatia? Não apenas podemos, mas devemos ficar alertas ao crescimento de um comportamento hostil, arraigado em preceitos antiquíssimos, mas que se renovam através da popularização da idéia mais banal do mundo: a liberdade de expressão.

É um paradoxo interessante, que pode ser explicado por um exemplo simples: Sempre que se defendeu os direitos dos homossexuais, por exemplo, houve repressão baseada em uma concepção ético-religiosa: da antinaturalidade. Considerando a natureza biológica do binômio homem+mulher como necessário à vida, os detratores dos direitos dos homossexuais se posicionaram sempre contrários à concepção de que dois homens ou duas mulheres pudessem formar um casal. Oras, se o amor une homem e mulher para gerar um filho, não existe amor em uma relação que não gera frutos. Essa é a bandeira anti-homossexual desde sempre, mas como toda bandeira ela se fixa em um terreno não muito firme: o do preconceito. Assumir que, pela antinaturalidade, um homossexual é um comportamento errado, é assumir que a existência desse é também biologicamente errada, o que pode o conduzir a considerá-lo um ser que não merece fazer parte de uma sociedade natural. Isso leva à violência, inevitavelmente.
Mas, quando a sociedade começa aos poucos a inserir em seu regime capitalista básico noções pontuais do socialismo, as coisas começam a mudar. Eu nem preciso explicar como isso funciona, deixo Antônio Cândido falar:

O senhor é socialista?

Ah, claro, inteiramente. Aliás, eu acho que o socialismo é uma doutrina totalmente triunfante no mundo. E não é paradoxo. O que é o socialismo? É o irmão-gêmeo do capitalismo, nasceram juntos, na revolução industrial. É indescritível o que era a indústria no começo. Os operários ingleses dormiam debaixo da máquina e eram acordados de madrugada com o chicote do contramestre. Isso era a indústria. Aí começou a aparecer o socialismo. Chamo de socialismo todas as tendências que dizem que o homem tem que caminhar para a igualdade e ele é o criador de riquezas e não pode ser explorado. Comunismo, socialismo democrático, anarquismo, solidarismo, cristianismo social, cooperativismo... tudo isso. Esse pessoal começou a lutar, para o operário não ser mais chicoteado, depois para não trabalhar mais que doze horas, depois para não trabalhar mais que dez, oito; para a mulher grávida não ter que trabalhar, para os trabalhadores terem férias, para ter escola para as crianças. Coisas que hoje são banais. Conversando com um antigo aluno meu, que é um rapaz rico, industrial, ele disse: “o senhor não pode negar que o capitalismo tem uma face humana”. O capitalismo não tem face humana nenhuma. O capitalismo é baseado na mais-valia e no exército de reserva, como Marx definiu. É preciso ter sempre miseráveis para tirar o excesso que o capital precisar. E a mais-valia não tem limite. Marx diz na “Ideologia Alemã”: as necessidades humanas são cumulativas e irreversíveis. Quando você anda descalço, você anda descalço. Quando você descobre a sandália, não quer mais andar descalço. Quando descobre o sapato, não quer mais a sandália. Quando descobre a meia, quer sapato com meia e por aí não tem mais fim. E o capitalismo está baseado nisso. O que se pensa que é face humana do capitalismo é o que o socialismo arrancou dele com suor, lágrimas e sangue. Hoje é normal o operário trabalhar oito horas, ter férias... tudo é conquista do socialismo. O socialismo só não deu certo na Rússia.

Por quê?

Virou capitalismo. A revolução russa serviu para formar o capitalismo. O socialismo deu certo onde não foi ao poder. O socialismo hoje está infiltrado em todo lugar.

Socialismo, para Cândido, é mais que um regime de oposição ao capitalismo: é uma característica intrínseca a uma sociedade que cresceu às voltas com uma revolução industrial, com uma mudança de paradigmas opressora. O socialismo, definido magistralmente como "todas as tendências que dizem que o homem tem que caminhar para a igualdade e ele é o criador de riquezas e não pode ser explorado" não é hipótese, é fato. Faz parte da consciência humana, que considera um trabalhador senhor de si por ser humano, e como tal, digno de gozar de sua vida em detrimento do regime de trabalho opressor do patrão.

- E o que isso tem a ver com homossexualismo?

Quando o socialismo prevê que nós devemos nos adequar á igualdade, e encrusta no capitalismo essa noção, começa a surgir a concepção de que homossexuais são iguais, pois são humanos. A reação natural contra posturas anti-homossexualismo (que eu não vou chamar de homofobia ainda, pois nesse estágio inicial nada mais é do que uma reação de defesa da sociedade) é o surgimento do movimento baseado justamente no direito adquirido. A moeda de troca da sociedade, porém, só veio anos mais tarde, quando homossexuais ganharam espaço dentro do capitalismo. Na verdade, quando eles se tornaram mercado consumidor. Podemos facilmente situar isso nos anos 2000, e um reflexo natural para qualquer um entender são, por exemplo, a proliferação de gays nas novelas da rede Globo. Podemos sim pensar numa sociedade mais justa e inclusiva, mas antes disso, temos uma sociedade que descobriu um filão econômico forte mediante uma crise iminente e destruidora. O capitalismo se aproveitou disso, e inseriu o gay na sociedade. Ele, agora, é natural, pois seu amor interessa ao capitalismo, não porque a sociedade como um todo tornou-se mais compreensiva.
E como ficam os defensores do anti-homossexualismo? Num primeiro momento, acuados, fechados em seus próprios argumentos. Com a perda de poder dessa bandeira, eles precisavam arranjar outra, que se adequasse ao modelo do capitalismo atual - que a partir de agora vou chamar de sociocapitalismo, justamente pelo paradoxo imbricado nesse postulado. A bandeira achada é justamente a bandeira da esquerda liberal: a liberdade de expressão.
É crime contra a liberdade de expressão discriminar um discriminador. Logo, a título de defender os preceitos da antinaturalidade do homossexualismo - e reafirmar os preceitos da parcela da população que mais sofre com as diretrizes de governos sociocapitalistas, que é a classe média cristã - inventou-se a idéia de que defender-se do homossexualismo é defender a sua liberdade de expressão, que nada mais é que uma nova maneira de enxergar a mesma antiga defesa à família natural. E mais: reverte-se o paradigma da impossibilidade da existência do antinatural levar à violência. Agora violência é não permitir que o homem tenha direito a impedir a penetração do conceito homossexual no microcosmo de sua comunidade. É violência contra a sua liberdade.
É bom atentar que, levando em conta essa colocação, ações como a do deputado Jair Bolsonaro ainda são meramente circenses. Jair Bolsonaro não é detentor de um discurso antinaturalista atual, adequado ao sociocapitalismo. Ele é da escola do recalque original, que investe como um leão contra qualquer ação que perscrute ao mínimo a esquerda. Ele é da mais próximo da posição de Júlio Severo, que de Reinaldo Azevedo. Apesar de nutrir ambos - e é aí que mora o perigo.
Posicionamentos como 0 de Bolsonaro não são diretamente responsáveis por atos de violência e repressão, mas nutrem os argumentos direitopatas. É como se uma pequena semente fosse plantada, e que germinasse lentamente, enquanto os jardineiros se preocupam em podar as arvores velhas e já corroídas pelo tempo. Bolsonaro é quem é desde muito tempo atrás, mas só o descobriram agora.
A Direitopatia surge quando esse discurso começa a fazer sentido.

- Oras, eu não sou homofóbico, mas não quero que meu filho seja gay. Se o kit anti-homofobia fizer meu filho se tornar gay, eu fico do lado do Bolsonaro. Mas não totalmente.

É o Vanderley da sauna gay, um dos últimos personagens bons do Casseta & Planeta. Ele frequenta a sauna, mas não é gay. O pai de família da classe média é contra o kit anti-homofobia, mas não é homofóbico, pois não quer ser comparado ao Bolsonaro. Ademais da comicidade da comparação, é dessa sementinha que surge isso:


Quem lançou esse projeto?


Carlos Apolinário, que se diz o "Vereador das Mãos Limpas", mas logo abaixo desse logo, em letras miúdas, deixa visível o lema "Fé e Trabalho". O que evidencia a segunda diretriz do comportamento direitopata: a defesa da Fé.

Aguardem a parte 2: Games, Heavy Metal, Noruega e o poder da Fé. Abraços.

sábado, 12 de dezembro de 2009

ABAIXO À FAMILÍA!!!


A liberdade de expressão é algo que deveria ser irrestrita e anárquica. Porém, isso só seria possível se qualquer ser humano viesse de fábrica equipado com a habilidade de não ofender o outro gratuitamente, respeitando incondicionalmente a opinião alheia. Sabendo que isso não passa de uma utopia vazia, se assim fosse, não conseguiríamos viver em sociedade. A línha tênue entre opinião e desrespeito não nos permite defender tal posição, principalmente porque é um limite quase nunca respeitado. Assim, se fundam as leis.
Hoje de manhã, acordei e dei uma zapeada pelos canais e vi por um acaso o gênio Silas Malafaia, verborrágico, pregando contra a pedofilia, no seu programa que tem o sintomático nome de Vitória em Cristo. Acompanhado do senador do PL, atual PR, Magno Malta, ele atacava violentamente o Projeto de lei 122/06. Essa é a já famosa Lei da Homofobia.
Agora, recapitulando. O QUE CARGAS D'ÁGUA A PEDOFILIA TEM QUE VER COM A HOMOSSEXUALIDADE!?!

É fácil de explicar, mas difícil de compreender (e aceitar).

Para a maioria dos religiosos, a Homossexualidade não é apenas um pecado, mas uma anomalia, uma aberração da natureza a ser combatida. Assim como a posição de qualquer homofóbico, eles arranjam argumentos estapafúrdios para defender o indefensável, que é o preconceito.

Um deles é que a Lei restringe a liberdade de culto, já que para a maior parte das religiões a oposição à homossexualidade não é discriminação, mas uma posição religiosa. Na verdade, por mais que a Lei queira impedir o preconceito, é realmente errado proibir a um religioso pregar o que crê. Porém, é tão errado quanto permitir a esse religioso pregar o que bem entende, sob a argumentação de que se trata de liberdade de culto. Assim é que, por exemplo, muitos evangélicos empregam a sua cruzada contra a umbanda, atribuindo a essa religião ares demoníacos. É um monstrusoso preconceito religioso.
O outro ponto, que é o que mais me choca, é a defesa da relação entre homossexualidade e pedofilia. Para muitos religiosos, a opção pela vida homossexual leva a uma tendência à pedofilia. É aí que entra o grande Magno Malta, o defensor incondicional dos direitos das crianças. Ele chefia a luta contra a pedofilia no Brasil através da CPI da pedofilia. É uma luta válida, necessária. E, do alto do seu conhecimento de psicologia e comportamento humano, ele fez a ponte entre os abusadores de menininhos e os homossexuais. Oras... se os abusadores sofrem de um distúrbio de ordem sexual, esse deve advir de outro "distúrbio"... além do que, a maioria dos pedófilos gosta de menininhos, não de menininhas. A licenciosidade da vida do homossexual (porque para eles todos os homossexuais são uns libertinos, que se dão e comem-se em orgias federais, ou que se vendem nas esquinas do Brasil) levaria a esse distúrbio. Simples assim, está defendida a relação entre pedofilia e homossexualidade. Fácil né?
E vem, aí, o argumento mais criminoso. A defesa da Família.

Peraê... o que é família para eles?

Pai, mãe, filha e filho. Frequentadores de cultos religiosos. Os filhos só se casarão virgens, como os pais. Eles oram todos os dias, ouvem apenas música gospel. Os pais só fazem sexo para a procriação.
Sim, a família brasileira de Silas Malafaia, Magno Malta, Pe. Marcelo "Eu bebo Kaiser" Rossi, Pe. Fábio Mela Cueca. Não a que eu conheço.

Esse modelo de Família é errado. Aliás, pra mim, a idéia toda de família está deturpada a ponto de em si só ser um erro. Não há justificativa para algo? USE A FAMÍLIA!! Todo mundo em sã consciência defende a família, certo?

Bem, eu não defendo. Não essa família.
Família é uma instituição. Como as igrejas. E instituições estão erradas, na sua maioria. A santa Wikipédia diz: O termo “família” é derivado do latim “famulus”, que significa “escravo doméstico”. Este termo foi criado na Roma Antiga para designar um novo grupo social que surgiu entre as tribos latinas, ao serem introduzidas à agricultura e também escravidão legalizada.

O sentido não mudou muito. A família é a escravidão legalizada do homem comum, do cidadão de bem. Sob a família se organizam, de forma sistemática, preconceitos, invejas, intrigas... A família pode ser saudável sim, pode ser rica. Mas não é, nem nunca será, algo mais do que uma instituição desnecessária. Um ser humano não precisa constituir uma família para sobreviver. Ele nem precisa ter filhos. Cada um é feliz do jeito que quiser. Família, senhor Silas Malafaia, é um DIREITO, não um dever.

Mas o que esperar de um líder religioso... senão o preconceito e a ignorância.

Por essas e por outras, defendo a extinção das famílias. Oras, se podem defender que todo homossexual é um pedófilo, eu defendo que toda a família deve ser extinta.
Ainda tem mais. Você, que é homossexual, que acha que isso tudo é um tremendo desrespeito, vá até um culto de qualquer igreja com seu companheiro, pare na frente dela e lasque aquele beijão molhado e gostoso. Já que eles acham que é direito deles poder te desrespeitar, os desrespeite. Como diz o livro sagrado, "olho por olho, dente por dente" (Levítico, 24:19-21, Êxodo, 21: 22-25, e Deuteronômio 19:21).

SEJA HUMANISTA. DEFENDA O SER HUMANO, NÃO OS SEUS ERROS.

.....

Liberdade de expressão não é justificativa para preconceito.

PS: Perfil de Magno Malta no Transparência brasil: http://www.excelencias.org.br/@casa.php?id=30012&cs=2
Entenda a Lei: https://www.naohomofobia.com.br/lei/index.php
O texto: http://www.abglt.org.br/port/projlei5003.html