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quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Rolezinhos: um diagnóstico de uma sociedade doente

Essa foto na verdade é do antigo Cinema Marabá, em São Paulo, mas serve como ilustração de como era o Cine Itapetininga

Eu não tive uma adolescência em shoppings. Eu morava em Itapetininga, cidade do interior de São Paulo, que na época não tinha um estabelecimento do tipo. Quando ia a algum shopping era com meus pais, em Sorocaba, pra fazer algumas compras, especialmente no Carrefour. Quando eu saí de Itapetininga, começaram a construir o shopping da cidade. Hoje o prefeito de lá é justamente o dono do shopping.
Só me lembro de uma coisa que esse shopping fez: o cinema antiquíssimo da cidade foi demolido e transformado em um estacionamento. O cinema dava pra um calçadão enorme, que desembocava numa praça. Demorei para querer assistir cinemas em shoppings justamente por isso, por revolta mesmo. Achava um absurdo demolir um cinema pra substituir por essas salas pequenas e padronizadas de shoppings. Eu juro pra vocês: o cinema de Itapetinga tinha uma sala em que cabiam umas 200 pessoas, bem espaçadas. Possuía um mezanino gigante em cima, e uma arquitetura que lembrava  uma versão mais modesta dos grandes teatros do início do século XX. Sua tela era o triplo dessas de cinema de shopping (eu conheci o IMAX bem antes de muita gente). Assisti lá desde os filmes dos Trapalhões mais clássicos até Rei Leão. Haviam sessões de cinema que eram pagas com passe escolar, pra estimular a molecada a ver filmes, e muitas vezes você podia ficar no cinema de uma sessão pra outra pra ver dois filmes em seguida. Ninguém sabe o que é isso hoje em dia.
Essa, se não me engano, foi a primeira vez na minha vida que eu senti certa consciência política contra algum tipo de símbolo capitalista, ou que eu reconheci no avanço do capital um perigo que podia minar as coisas que eu amo e que fazem parte da minha vida. Posso dizer que foi uma das primeiras vezes que eu me revoltei de verdade contra o sistema.
E sim, esse texto é sobre os rolezinhos.

domingo, 13 de janeiro de 2013

Melhores Álbuns de 2012 Parte 2 - Funk, Peixe e Tendões

Peixe
Eu queria ser um cara regularzinho nas minhas postagens mas, infelizmente, não ganho nada com isso aqui e tenho outras coisas pra fazer da vida. De qualquer forma, se conseguir publicar uma parte da listagem por semana já estarei imensamente satisfeito.
Continuando a lista começada aqui, vamos para quatro novidades totalmente excelentes da lista. Dentre elas, a única entrada nacional.

14. BNegão & Os Seletores de Frequência - Sintoniza Lá

País: Brasil
Estilo: Funk-rap-rock'n'roll-psicodelia-hardcore-e-ragga


Bnegão é o melhor dos ex-integrantes do Planet Hemp, uma das melhores bandas de rock da história do Brasil. Isso porque ele manteve em sua carreira solo não apenas o seu estilo marcante de rimar bem como a bagunça eclética e extremamente agradável que tornava o som da finada banda carioca tão bom. Aliás, fica cada vez mais evidente que, por mais que D2 se destacasse (talvez até, penso eu, por ser o único branco dos vocais, em contraste com Black Alien e Bnegão), o melhor do Planet não era mesmo ele. A carreira do D2 (piada totalmente não intencional) é bem mais prolífica em número, mas em qualidade...
De qualquer forma, Sintoniza Lá não é tão bom quanto Enxugando Gelo, seu disco anterior, uma obra prima, mesmo que aqui BNegão e sua banda tenham construído um trabalho muito mais coeso, muito mais calcado no groove, no samba rock e no funk clássico que o anterior. Basicamente faltam mais músicas da qualidade de "Dança do Patinho", "Nova Visão" e "Funk até o caroço". Em compensação, temos as porradas "Eah!", "Essa é pra tocar no baile", "Subconsciente" (que me dá saudade do lado mais pesado do som do Bnegão) e "Panela de Pressão", todas excelentes e tão boas quanto as do anterior. Mas as outras, mesmo sendo o melhor que o Brasil faz atualmente, não são tão boas quanto o resto do Enxugando Gelo, principalmente porque depois de umas seis músicas falando de "vamos dançar", o álbum cansa um pouco. O que não depõe contra o trabalho do Senhor Bernardo, pelo contrário: ele faz a melhor música brasileira da atualidade pra mim. E pode botar toda essa porcaria pseudo intelectual no balaio, pode juntar Silvas, Malus, Camelos, Pethits, Caetanos e todo o resto que não dá meio Bnegão. A MPB só não morreu por causa de gente como ele e por causa dos velhos bons de guerra, como o Chico Buarque e o Tom Zé (o Caetano não é melhor nem que Michel Teló, desculpe). E depois de ter visto ele ao vivo, então, digo: no Brasil, quando o negócio é fazer a gente sacudir o esqueleto, não tem pra ninguém.
Pena que ele seja o único brasileiro capaz de entrar na minha listagem. Isso fala muito sobre meus gostos, claro, mas fala muito também sobre o que se produz aqui. Quase listei Filipe Catto, o único que me chama a atenção dos novatos (além do Criolo), mas infelizmente só ouvi o maravilhoso disco dele esse ano, sendo que o disco é de 2011... Enquanto tem mais de um disco da Suécia, país com menos habitantes que a cidade de São Paulo. Que vergonha, héin Brasil?



Nota: Por ser o único brasileiro fazendo música dançante e pensante que preste, 9 Apolos.


13. Threshold - March of Progress

País: Inglaterra
Estilo: Metal Progressivo



Sou fã de progressivo, de qualquer tipo, principalmente da sua vertente metálica. Sempre ouvi falar de duas bandas dentro do metal progressivo pras quais nunca dei a devida atenção: Fates Warning e Threshold. Mas esse ano eu dou o braço a torcer: com um minuto da primeira faixa, Ashes, eu já exclamei: "que disco FANTÁSTICO é esse March of Progress!"
Passando por mudanças diversas na carreira (eles tão por aí desde 88), o Threshold nesse álbum tem à frente seu vocalista original, Damian Wilson, e acho que uma das coisas que me afastava do Threshold era o vocal do McDermott (falecido prematuramente em 2011), mesmo sendo muitíssimo competente (gosto do Dead Reckoning, o último com ele). Isso e meu desconhecimento, meio que um preconceito mesmo.
Mas, sinceramente, esse disco é bom o suficiente pra conquistar até não-fãs do estilo, que não é pra todo mundo. Tem gente que não "aguenta" Dream Theater e Symphony X, apesar de eu adorá-los, pelos excessos técnicos e uma certa falta de feeling, de alma mesmo (que me faz não gostar tanto de outras bandas do mesmo estilo, como Vanden Plas). Já o que o Threshold faz aqui é realmente um passo adiante, mas sem deixar de lado o estilo clássico, as variações de tempos e o s refrões grudentos. E puxa, não tem como não sair cantando por aí refrões como os de "Ashes" e "Staring at the Sun". (refrão fácil, pra quem possa reclamar, não é sinônimo de música ruim.. Beatles tão aí pra provar isso).
Enfim, se você nunca ouviu e pretende conhecer esse estilo tão bacana, March of Progress é um excelente disco pra começar. Deixo vocês com a minha favorita, "The Hours":


Nota: Por manter o prog metal vivo e melhorá-lo, 9 apolos e meio.



12. Marillion - Sounds That Can’t Be Made

País: Inglaterra
Estilo: Rock progressivo

Pensei em várias maneiras de começar esse review, mas só achei uma: como é bom poder incluir um disco do Marillion nessa lista!

Vejam essa no tamanho ultra grande, porque merece.
Nunca fui fã da fase pós-Fish do Marillion. Acho o Steve Hoggarth um baita cantor, mas eles nunca fizeram nada que chegasse aos pés de ábuns como Fugazzi e Misplaced Childhood. Mas parece que a idade fez muito, muito bem pro Marillion. Sounds That Can't Be Made é um DISCAÇO. Sério, se só tivesse a primeira faixa, o épico Gaza, já valia lugar em qualquer lista. E sim, Gaza fala exatamente do que você está pensando: é a visão da situação do país pelo olhar de uma criança palestina. Não me lembro da banda já ter sido tão politizada numa música, mas é bom poder ouvir esse discurso vindo deles. Isso porque qualquer ataque aos criminosos de Israel é pouco. Genocidas não merecem respeito.
Deixando a política de lado, Gaza é 17 minutos e 30 segundos de epicidade! Desde seu riff principal (aliás, extremamente pesado pra uma banda como o Marillion) até suas variações no meio do caminho, com movimentos de calmaria e revolta muito bem dosados. Tudo funciona tão bem com Gaza que é até pecado eles terem posto outras músicas no mesmo álbum... hehehehe
Mas, talvez para desgosto do Peixe, as músicas seguintes são muito fodas. Não tanto quanto Gaza, pois ela é épica demais, mas com certeza são faixas que mantém a qualidade do produto final.
A música título é LINDA. Tanto que a escolhi no lugar de Gaza como amostra do álbum. Hoggarth canta aqui com uma força, mesmo com sua voz frágil e até um pouco limitada (principalmente em relação a do grande Peixe), ele conquista qualquer um. Ela tem um toque de anos 80 bem claro, como todo o resto das músicas, mas sem perder a modernidade - uma modernidade que parecia que nunca ia chegar para o Marillion.
Peixe
E não tem como ser mais anos 80 que em Pour my Love, uma balada que só quem fez Kayleigh e Lavender  (até hoje a minha música favorita da banda) sabe como fazer. Como "Power" e as faixas seguintes, todas com aquela aura de anos 80, 90 e a modernidade do século XXI. E não tem muito o que falar sobre "The Sky Above The Rain"... difícil expressar além do que eu falei como esse álbum é lindo...
Acho que, mesmo tendo feito bons álbuns como Marbles, esse é o que me conquistou do período Hoggarth.





Nota
: Por Gaza e me fazer voltar a amar Marillion, 9 apolos e meio


11. Sinew - Pilots Of a New Sky

País: Alemanha
Estilo: Rock progressivo, com uma pitadinha de indie e rock alternativo



Essa é a mais novinha dessa listagem de hoje, mas ficou na frente de todo mundo com méritos. Nunca tinha ouvido falar de Sinew antes desse álbum e, como porta de entrada, ele é péssimo... isso se você considerar o que eles faziam antes de Pilots of a New Sky, um som ótimo mas completamente diferente do encontrado aqui. E se você viciar nesse disco deles como eu viciei, vai acabar ignorando o que eles fizeram antes. É sério, esse é daqueles álbuns que servem como um divisor de águas na carreira da banda, e a meu ver um divisor pro bem.
Você vai perceber que o que o Sinew faz às vezes é muito diferente do rock progressivo tradicional, se aproximando mais de bandas com uma pegada mais alternativa e até (pédepatomangalôtrêsvezes) indie.  Mas um indie bom, não a merda que as ditas bandas indie brasileiras fazem e só decerebrados metidos a DJ's da MTV acham bom. Na verdade, a fonte deles pra mim é muito mais gente como Manic Street Preachers que os indie bunda de hoje. Sinew é moderno de verdade, e a música que mais vai deixar claro o que eu estou dizendo é Mercy on Apollo, a minha favorita. A sua utilização do eletrônico e sua pegada não lembram em nada o prog, mas ele tá lá, escondidinho, e muito bem trabalhado. E como não se apaixonar pela poderosa voz de Sascha Junker? O cara canta muito, mesmo que não tenha um estilo lá muito versátil.
Mas o disco não acaba aí não. One Glimpse B.C. tem um refrão que é outro grude na cabeça (e os riffs dos caras parecem melhorar com o passar do disco), The Skins I Wear é mais lentinha, mas linda de viver, como diria a finada Hebe, e um belo exemplo do que uma cozinha muito afinada pode fazer, mesmo numa música mais lenta e quase emo (!!). Arctica chega a parecer Coldplay no começo (só que melhor) e a música que dá nome ao álbum é um achado. E ainda tem a épica The Descend To The Heart Of Mount Sadhana, a mais progressiva do álbum, com seus muito bem utilizados 13 minutos de duração. Mas isso só pra citar algumas.
Enfim, se você quer rock alternativo de qualidade e ao mesmo tempo com identidade, os alemães do Sinew são a sua pedida!



Nota: Por fazer a mistura de rock progressivo com rock alternativo render uma coisa maravilhosa, 9 apolos e meio. E nunca procure Sinew no Google imagens se você tiver estômago fraco (ou for vegetariano), tá?


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A seguir, não perca: Mato, Galícia e Motown