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sábado, 28 de fevereiro de 2015

Conjuntura



I.

Do dicionário Caudas Aulete online:


conjuntura (con.jun.tu.ra) sf.


1. Situação não duradoura, resultante da combinação de diversos fatores ou circunstâncias: A atual conjuntura econômica é um desastre.: "Seus próprios pais com ela se aconselhavam nas conjunturas difíceis." (Franklin Távora, O matuto))
2. Fato, acontecimento, ocorrência que modifica ou caracteriza determinada situação concreta.



terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Por que é burrice pedir o afastamento de Renan Calheiros?

Esse texto é uma reunião de postagens, comentários e outras elucubrações que venho fazendo acerca do tema nos últimos dias, principalmente na minha página pessoal do facebook. Resolvi publicar no formato de texto com o intuito de esclarecer minha posição, aos que já me conhecem, e abordar um outro espectro da questão que não tenho visto ser abordado por aí.


Meu nome no facebook é Fábio Gerônimo Guarani Kaiowá. Apesar de terem tentado (e conseguido) eliminar esses nomes ligados à essa causa do facebook, eu por algum motivo consegui manter o meu. Fiz isso como um apoio à causa dos índios Guarani-Kaiowá, que estavam ameaçados de extinção pela ação criminosa de senhores de terra dos rincões do velho-oeste brasileiro. Eu não preciso explicar toda a situação, suponho, mas me lembro que rolou pelo facebook uma petição online pelos Guarani-Kaiowá. Eu assinei, obviamente, acreditando que a petição efetivamente poderia ajudar a solucionar a questão. Acredito no poder de mobilização coletivo em prol de uma causa, e é fascinante que a internet possa permitir uma ação do tipo. Eu não julguei, no momento, que aquela ação poderia ser inútil efetivamente: apenas julguei que eu estava contribuindo um pouco com algo que, pra mim, é dever de qualquer defensor da vida humana.
Mas e a mudança do nome? Há vários motivos, diferentes pra cada pessoa (a Eliane Brum traz um excelente texto sobre o assunto). Pra mim, a mudança tinha outra via de ação: ao integrar-se nominalmente ao grupo que eu queria defender, simbolicamente eu defendia que eu fazia parte daqueles que se entregavam à morte perante a máquina compressora dos ditadores do campo. Eu obviamente não iria morrer de fato, mas é como se eu dissesse ao mundo que a morte daqueles seres é a minha morte também. Aliás, mais que isso, é a morte de qualquer um de nós, a morte de nossa ética, de nossa decência, de nosso bom senso e justiça. Além disso, permiti a cada pessoa que visse meu nome pensar, mais uma vez, naquela causa tão urgente. Não é apenas uma postagem que fica pra trás na longa timeline do facebook, mas o meu nome: sempre presente, afixado na minha existência virtual. Por esse último motivo que eu não removi o nome da tribo ameaçada do meu facebook, como alguns amigos fizeram quando, dada a pressão, começou-se a rever a questão da demarcação de terras dos Guarani-Kaiowá. Eu sei que, mesmo que uma vitória tenha sido conquistada, a vida desses seres ainda está em perigo, e tudo pode mudar a qualquer momento. É um protesto, também, perante gente como a bancada ruralista do congresso, gente como Regina Duarte, defensora dos direitos dos donos de terras, e Kátia Abreu, da própria bancada, dianteira na pressão exercida sobre a presidente em favor dos interesses desses criminosos.
O ciberativismo, como está sendo chamado, se tornou o responsável por essa e por outras ações que geraram efetivas mudanças a curto prazo. É sempre lembrada a famosa Primavera Árabe, motivada por jovens conectados em rede, com anseio de mudança. Mas nenhuma dessas ações obteve sucesso exclusivamente pela movimentação da rede. Sempre foi necessário ações concretas fora do mundo virtual em prol do sucesso das empreitadas, sendo o palco internético o espaço de agregamento de ideias, de informações e, principalmente, de pessoas e logística.
Esse é o gancho para entrar objetivamente no assunto do texto que, propositalmente, exponho no titulo de maneira polêmica e agressiva.
A mobilização virtual fomentada pelo jovem Emiliano Magalhães contra o senador das Alagoas Renan Calheiros (PMDB) foi uma ação das mais populares no meio virtual brasileiro dos últimos anos. Eu recebi essa petição (e vários clones e petições derivadas) todo dia tanto por facebook e email (não vi o twitter porque o twitter morreu e ninguém usa mais). É um pedido tão repetido, tão insistente, que você chega a se sentir mal por não aderir, como se você não estivesse cumprindo seu dever cívico de lutar pela decência e moral no seu país, afastando a corja corrupta do congresso com o poder que as novas tecnologias te oferecem. Ao invés de compartilhar memes, piadinhas e outras bobagens, eu estaria efetivamente contribuindo pro futuro do meu país, numa ação realmente construtiva.
Tudo uma tremenda bobagem demagógica, hipócrita e inútil.
Vivo postando textos sobre política no facebook, manifestações diversas, mas sempre alinhadas à minha visão de mundo, ou seja, esquerda, doa em você ou não. Esse tipo de postagem é mais útil do que muita gente pensa, pois serve para fomentar o debate, de todos os lados, e a única coisa tão importante quanto a leitura na formação do conhecimento humano é o debate. Por isso não sou contra manifestações políticas no facebook, muito pelo contrário, eu as acho fundamentais. Mas nenhum debate que comece e termine na internet é frutífero de verdade, sabe? As pessoas não leem as coisas, não prestam atenção e compartilham qualquer coisa. Pouco importa se eu concorde ou não com sua opinião, eu sempre espero que as pessoas que estejam compartilhando algo no facebook o façam porque você conhecem e corroboram com os argumentos que defendem. Eu não vejo isso no comportamento das pessoas, elas reproduzem o discurso alheio sem atentar para o que existe por trás das propostas que elas dizem defender. Eu apostaria que 90% de quem compartilhou a tal petição online não sabe nada sobre o "Renangate", capaz de nem saberem de que estado ele vem. Acho que ativismo virtual é verdadeiramente útil quando ele não exclui o real e quando ele gera reflexão, o que não é o caso.
Mas e o caso dos índios? Todos bem sabem que as petições online foram apenas uma das diversas ações empreendidas em defesa deles. Houveram manifestações de todos os lados, pessoas saíram às ruas, foram até as aldeias. A petição sozinha não tem força alguma, nem tem o valor efetivo de um abaixo-assinado real, mas pode servir como uma de várias ferramentas para a conscientização. Como a mudança dos sobrenomes.
As pessoas que compartilharam e insistiram pela sua assinatura o fizeram por três razões: uma é a efetiva ilusão de que a coisa funciona, por desinformação; a segunda é a ilusão de estar fazendo a coisa certa, de estar contribuindo para algo, que gera uma aceitação por parte da sociedade - a não assinatura está ligada diretamente aquela impressão de não ser cidadão, que comentei antes - e um conforto espiritual; a terceira razão é a ilusão de segurança: quem não sai às ruas pra protestar não toma borrachadas, não é perseguido, ou seja, o ativismo no conforto do sofá garante ao agente fazer a sua parte sem se mover... é o ativismo moderno, a mobilização delivery, muito melhor explicada neste post do Observatório da Imprensa.
Mas essa não é a minha única bronca.
Como já postei no facebook, a corrupção não é o maior dos problemas da nossa política, nem o menor. É um problema endêmico, epidêmico, que faz parte de PT e PSDB, só pra citar dois espectros mais visivelmente opostos da política nacional (e cada vez mais semelhantes). Os corruptos de hoje só se diferenciam dos de ontem por duas coisas: são mais novos e estão sendo punidos. No governo FHC tivemos diversos casos de corrupção, denunciados pelos mesmos jornalistas que hoje falam de mensalão e Cachoeira. Mas o que a maioria das pessoas reclama sobre a corrupção no governo federal é mais grave justamente por ser a continuidade de um esquema que parece indissociável do nosso modelo político atual do que por ser uma traição ao seu voto de confiança. Muita gente votou no Collor e, arrependido, votou no FCH. O ciclo de arrependimento os levou a elegerem o Lula e depois a votarem no Serra, sem sucesso. Esse arrependimento vem do fato de que as pessoas estão anestesiadas - muito por culpa de nossa mídia - em estágio de eterno torpor, com um discurso decorado e propagado sem muita mudança por todos: todo político é corrupto. Mas ser de esquerda não te torna menos responsável, e ser de direita não te torna um poço de moral. Votar nos corruptos de ontem não é melhor que votar nos de hoje, e não resolve nada, apenas te dá a ilusão de mudança. Mas como todos sempre prometem saúde, educação e moradia e a mídia sempre promove os roubos e falcatruas, as pessoas (com razão) desacreditaram totalmente no modelo político atual. E esse é um dos maiores, senão o maior perigo pra uma democracia: quando os cidadãos perdem a confiança na legitimidade dos seus representantes.
Isso nos leva de volta ao Renan Calheiros:
Será que todas as pessoas que clamam contra a eleição do Renan Calheiros à presidência do senado sabem exatamente o que um presidente do senado faz?
Será que todas as pessoas que compartilham abaixo assinados pedindo sua cassação sabem como funciona o sistema de cassação de parlamentares no país?
Será que todas as pessoas que reclamam da corrupção nunca votaram em um corrupto?


Meu comentário todo é baseado no fato (sim, isso é um fato) de que cada vez mais as pessoas compartilham informações das quais ela não tem certeza ou mesmo que nem são verídicas apenas pelo fato de que, compartilhando, elas se sentem bem pela ilusão de fazer algo. É o caso do tal site de petições que, efetivamente, não tem poder algum sem uma mobilização séria, daquelas com papéis e assinaturas reais. No texto do Observatório, o especialista em internet faz um comentário sobre a possibilidade de o ativismo virtual substituir o ativismo real (marchas, manifestações, etc.), pois ele é mais seguro (ninguém apanha da polícia) e permite o anonimato. Mas isso pode acabar dando origem a um ativismo restrito ao mundo virtual, o que seria muito danoso pra democracia. Eu acho importantíssimo o espaço das redes tanto do ponto de vista simbólico (o caso do meu sobrenome no facebook), quanto da pressão efetiva, mas o exemplo claro de que certas mobilizações estão com o foco errado é que essa petição contra o Renan Calheiros surgiu antes de sua eleição, foi comentada até pelos congressistas e, mesmo assim, ele acabou eleito! O que é complicado no caso são duas coisas: o fato de o Renan poder se reeleger para qualquer cargo político (pois lá na terra dele ele SEMPRE vai ganhar) e o fato das votações na câmara e no senado serem sempre secretas. No fim, por vezes, nem sabemos se as pessoas em quem votamos realmente estão defendendo nossos interesses.
Outra coisa equivocada na maioria das pessoas é a visão do que é um corrupto: tecnicamente, por mais que pessoas gritem aos quatro ventos contra ele, o Lula não é um corrupto. Ele é considerado um corrupto porque o relacionamos aos casos de corrupção promovidos pelos membros de seu partido, o PT, como o Mensalão. Mas não há provas contra ele, pelo menos não para o STF, que nem o incluiu nos seus julgamentos. Logo, se eu não voto no Lula porque ele é ACUSADO de corrupção, eu não deveria votar em 90% dos políticos, como Serra e até o FHC, todos acusados - pela mídia ou pelos populares - de algum escândalo de corrupção. O que quero dizer é que as pessoas dizem que o Lula é corrupto porque boa parte da grande mídia o designou dessa forma, logo compramos o discurso alheio mais uma vez como se ele fosse a verdade quando, em suma, ele é uma interpretação dos fatos. A mesma coisa acontece, PASMEM, com Renan Calheiros: houveram seis representações contra ele no conselho de ética mas ele renunciou antes, por pressão "popular". Tecnicamente, ele não foi nem julgado, renunciou ao cargo de presidente e manteve o cargo de senador. E cadê o povo pra exigir o prosseguimento dos processos? 


Afastar Renan Calheiros da presidência, em suma, nada muda na política nacional. Ele tem que ser julgado e punido, não apenas afastado de uma função pra voltar logo depois. Mas enquanto os mecanismos políticos vigentes permitirem que ele volte, ele voltará, até morrer. Por isso continuam no congresso tantas figuras julgadas e condenadas pela opinião pública e até pela justiça. Alguém sempre vota nesses caras, alguém não se importa nem um pouco com nenhum escândalo político, ao contrário: se sente feliz com a presença desses caciques no poder sempre. O atual presidente da Câmara dos Deputados, por exemplo, é congressista há 42 anos!


Não é o Renan que precisa sair: ele precisa de julgamento e, caso seja comprovado como criminoso, de punição. Mas antes de tudo, é preciso repensar nossa democracia e nossa política.
Mas, numa democracia onde o STF pune Zé Dirceu por saber demais e sequer indicia Lula, por ele não saber de nada, há algo de muito estranho acontecendo...

PS: quer fazer algo de realmente útil relacionado à política na internet: visite o site Votenaweb e conheça as propostas de todos os nossos políticos. Você pode debater e votar (voto simbólico, é claro) nas propostas que você acha boas ou ruins para o país.

sexta-feira, 20 de julho de 2012

No que você está pensando?



Se teve uma coisa que eu aprendi nesses anos de vida, foi que não preciso ser cristão para entender a importância de algumas coisas que o cara disse.
Uma vez, segundo a crença, ele disse em alto e bom som ao proteger uma prostituta do apedrejamento, algo como "atire a primeira pedra aquele que nunca pecou". É um dos adágios mais velhos do mundo, e um dos menos praticados.
A cena clássica de A Vida de Brian, filme do grupo inglês Monty Python, mostra da maneira sarcástica que lhes é característica como a humanidade não entendeu essa mensagem.


Vivemos sempre como as mulheres disfarçadas de homens dessa cena: apedrejando o outro pela diversão de apedrejar, como se não tivéssemos nós também um "telhado de vidro".
Aliás, pior: como se não fôssemos nada mais que o outro para aquele que discriminamos. Tenho notado que há um culto atual ao mau humor, muito em voga na rede social mais popular, o Facebook. Por algum motivo, a "pessoa falsa" é um dos inimigos mais terríveis dos usuários de facebook. É só jogar no Google as palavras "falsidade+facebook" para ver não apenas a proliferação de páginas do site ligadas ao tema como sites dispostos a produzir as famosas "montagens" com imagens só desse tema.
Difícil dizer como a cabeça funciona na hora de eleger o seu diabo pessoal, ainda mais quando esse diabo é reproduzido em massa. Ao afirmar que "a civilização atual a tudo confere um ar de semelhança", Adorno e Horkheimer identificaram a questão pontual, a meu ver, da reprodutibilidade automática de um comportamento nos veículos de massa. O facebook vende um produto muito claro, a meu ver, que é a imagem idealizada do próprio indivíduo que frequenta o site. Eu já discuti sobre isso no blog, quando comentei sobre redes sociais, mas cada dia é mais frequente o apagamento do indivíduo perante a sua versão digital. Ainda mais quando consideramos o espaço em branco da exposição, o mural, onde estão as convidativas palavras: "No que você está pensando?"
As pessoas projetam, nesse espaço, uma simulação de si mesmas que não condiz, nunca com a verdadeira pessoa que são. Todos fazemos isso, mas o problema é que muitos não percebem isso, fazendo desse espaço o termômetro de sua existência real. É complicado que, como um mediador seguro e frio de pessoas, o espaço de expressão do facebook serve como escudo ao mesmo tempo que, como "espaço em branco" é uma segurança para a sua auto-exposição, pois é como se jogássemos palavras ao vento, na certeza da aceitação de alguém. O isolamento nesse casulo informático macula a essência de tal forma, que criamos um subproduto de nós mesmos e o vendemos muito barato (Adorno/Horkheimer de novo). 

Por mais paradoxal que seja isso, virou moda ser anti-social na rede social... Sinal da depressão coletiva que assola a humanidade? Não sei, mas a quantidade de inimizades, problemas de relacionamento, brigas que surgem por causa do que se "curte" ou "compartilha" me assusta.
Essa semana mesmo li um texto muito interessante no techtudo sobre os problemas da equação "relacionamento+facebook". Há uma história singular ali, que demonstra o quanto as pessoas perderam a noção do que são e dos limites entre o mundo virtual e o real:

"No dia dos Namorados, Aline recebeu, na empresa em que trabalha, um buquê de flores com um lindo cartão. Adorou as flores, se emocionou com o cartão e os deixou sobre a mesa. Horas depois recebeu uma mensagem pelo celular. Era seu namorado perguntando por que ela ainda não havia postado uma foto do buquê no Facebook. Aline, desorientada tentando encontrar uma resposta, se fez de desentendida. Piorou a situação, pois o namorado enviou uma mensagem ainda maior, indignado. Considerou um absurdo e estava muito triste por ela não publicar a foto das flores no Facebook. Continuou dizendo que, para ele, aquilo seria o reconhecimento do amor dele por ela, já que poucas mulheres receberam flores no trabalho nesse dia e que as que receberam, pelo menos as que ele conhece, postaram no site. Para o namorado de Aline, ela não deu a devida atenção ao presente. E o agradecimento dela deveria ser em público para que todos pudessem ver o quanto ele a ama. A história é real, apenas troquei o nome da personagem que recebeu as flores."

A necessidade de reconhecimento passa pelo "mural" do facebook. E isso demonstra uma grotesca incapacidade de se sentir aceito fora desse mundo virtual. A legitimidade de um relacionamento estar submetida à rede social é um sintoma do apagamento de muito da essência dessas relações no mundo real. E, em muito, é a demonstração mais clara de como se padronizou a imagem e o comportamento dos indivíduos. A própria matéria acima demonstra isso, quando diz que vivemos rodeados de imagens do que devemos ser, de como devemos nos comportar, de expectativas, sonhos... Na sociedade da informação, tudo isso é mais rápido, mais supérfluo e pode gerar dividendos, claro. E, de tal forma, até depressão coletiva vira produto.

Aliás, cada vez mais, a versão digital dos usuários de facebook é mais antipática e intragável. Virou moda, por exemplo, a intolerância com a opinião alheia ao invés do debate. Páginas com montagens e frases ofensivas e vazias, como "Inveja de mim? Entra na fila" ou "Se eu não pedir a sua opinião, guarde ela pra você" demonstram um ser humano fraco, inseguro e que usa da arrogância para se defender.
E eu não faço a menor ideia se a frase é dele mesmo.
Mas é difícil entender, pra mim, como isso torna alguém melhor. Não que eu acredite na capacidade das redes sociais de melhorar o ser humano, mas cada vez mais elas pasteurizam o que há de útil e reproduzem o pior dos comportamentos. Frases machistas, intolerância, fascismo. Parece que tudo que permite ao ser humano um palanque de expressão logo é dominado pelo tipo de comportamento mais conservador, mesquinho e infantil. Pior, de pessoas que falam isso aos quatro ventos, e de tantas outras que se dão ao trabalho de "curtir" tudo ou "compartilhar" sem nem pensar nas consequências de seus atos.
Nessa logica bizarra, o ser humano é a própria mercadoria, e é consumido por ela. Sim, é a fetichização de um produto que é a sua própria imagem. Não é difícil se distanciar disso, mas é necessário aprender a lidar com esses novos "eu-líricos" que criamos no mundo virtual, os eu-informáticos, que poluem a nossa vida com a veemência de um personagem em guerra com seu autor. O problema é que o autor é inconsciente do personagem que criou, e o personagem vira a doença desse autor. E eu falo em doença porque, no Japão por exemplo, a doença da anti-sociabilidade já tem nome: os Hikikomori.
A epidemia de azia do facebook já demonstra que ninguém aprendeu nada e, pior, como nossas relações sociais se deterioraram. As pessoas estão esperando sinceridade, compreensão, afeto, atenção em uma página de internet e, para tanto, estão expondo o pior lado do personagem que criaram para si.
Uma matéria muito interessante do Kotaku sobre o excesso de paixão na internet diz algo pontual para essa análise:




Importe-se menos. Matt Atchity lembrou bem que existem coisas mais importantes com que se revoltar; xingar os críticos que não gostam da coisa que você gosta é algo insignificante no contexto geral. Mas eu digo que isso é só um sintoma: a causa desse comportamento é muito mais profunda. É o resultado de permitir que os produtos que você consome, ou o hobby em que você se envolve, definam você.
Eu já passei por isso e foi bom finalmente abandonar o barco. É muito doloroso levar a negatividade para o lado pessoal, e é cansativo ser uma “pessoa com raiva na internet”. Você é mais do que os jogos que joga, filmes que assiste e música que ouve. Então, não precisa se importar com os outros ou levar para o lado pessoal quando os outros não gostarem daquilo que você ama.

Desde quando começamos a ser definidos pelo que consumimos, e não pelo que somos de fato? Quando começamos a nos importar mais com o que os outros dizem sobre o que consumimos que com o que nós mesmos nos responsabilizamos, como pessoas? Quando transformamos uma "REDE SOCIAL" em uma simulação fútil de uma sociedade de negativismo e intolerância? Quando foi que decidimos substituir o "humor no face" pelo "não tô nem aí pra você"? Quando entregamos nosso caráter em prol de uma simulação mal feita de nós mesmos?

E a pergunta que mais me angustia: tem volta?

Bem, eu sempre tento fazer como os próprios caras do Monty Python me ensinaram:

terça-feira, 15 de maio de 2012

Quid pro quo




Segundo a Wikipedia:


Quid pro quo é uma expressão latina que significa "tomar uma coisa por outra". Refere, no uso português e de todas as línguas latinas, uma confusão ou engano. Tem origem medieval, tendo sido usada, na sua origem, para referir um engano no uso de termos latinos num texto. Também podendo significar "Isso por aquilo".
O seu significado nos países anglo-saxônicos evoluiu num sentido diferente, e é aí usada agora como como significando uma troca de bens ou serviços. É também aí muitas vezes usada como sendo troca de "favores".



A revista Veja, aquela em que se pode confiar, que defende a moral e a ética, virou alvo... E, depois de muito fugir da raia, resolveu se defender!


A seguir, trecho de texto publicado em 12/05, sob o título: Falcão e os insetos: guerrilha digital envenena o Twitter, onde a revista Veja acusa Rui Falcão, presidente do PT, de articular uma guerrilha digital contra a revista utilizando Twitter (com um recurso infográfico, inclusive) e redes sociais:

"A internet aceita tudo. Chantagistas contrariados fazem circular fotos de atrizes nuas (vide o caso Carolina Dieckmann), revelam características físicas definidoras (“minimocartaalturareal1m59cm”), apelidam sites com artigos do Código Penal (“171”, estelionato) e referenciam-se em doenças venéreas -- por exemplo, na sífilis (grave doença infecciosa causada pela bactéria Treponema pallidum) -- para formar sufixos de nomes. É lamentável sob todos os aspectos que uma inovação tecnológica produzida pelo engenho, pela liberdade criativa e pela arte, combinação virtuosa só possível sob o sistema democrático capitalista, baseado na inovação, na economia de mercado e na livre-iniciativa, tenha nichos dominados por vadios, verdadeiros limbos digitais onde vale tudo -- da ofensa pura e simples a tentativas de fraudar a boa-fé dos usuários. Cidadãos que se sintam atingidos por epítetos como esses acima, que vagam pela internet, infelizmente, não têm a quem recorrer."

Raras são as vezes na história desse país em que se lerá em letras caras a postura política dos homens por trás da Veja como neste pequeno trecho. Aqui encontramos claramente a filosofia política por trás da Veja: ela é a defensora do "sistema democrático capitalista, baseado na inovação, na economia de mercado e na livre-iniciativa".

E, numa megalomania assustadora, cada vez mais, a Veja posa de defensora de algo quando, na verdade, ela deveria se preocupar em SE defender.

A Veja assume para si um discurso até raso, mas que é estratégia clássica para qualquer rato sem saída, num misto de maquiavelismo e contra-argumentação falaciosa.

Num outro momento do texto, surge a tradicional visão clássica civilizatória, que pensa a nação americana como o centro filosófico, político e cultural do ocidente: "Em algum momento, essas diatribes precisam ser atenuadas, pois nem os filtros disponíveis nos programas de mensagens são capazes de impedir essas distorções que tanto atrapalham a funcionalidade e minam o gigantesco potencial civilizatório da fenomenal invenção nascida das melhores cabeças científicas e comerciais dos Estados Unidos da América."

Não apenas é assustadora a associação direta de "cabeças científicas" com "comerciais" - porque, de fato, o pensamento eminentemente capitalista e neoliberal prevê que uma coisa só pode existir em benefício da outra -, mas a insistência em um alarmismo paranóico que tenta fazer o leitor crer em uma articulada organização que visa perseguir e censurar. Paranóia sempre funcionou melhor que informação, e é assim que o sensacionalismo substitui a busca pela verdade nos fatos. Datenas chovem nas tevês com a mesma estratégia, gritando palavras de "justiça" que deixariam qualquer Olavo de Carvalho orgulhoso.


O mais legal é que a Veja distorceu tudo, descaradamente. O suposto robô de que ela fala, que estaria sendo usado por petistas para o tuitaço é um ser humano e já foi até entrevistado:

http://altamiroborges.blogspot.com.br/2012/05/mentira-da-veja-sobre-os-robos.html?spref=tw

E, lendo o texto que aqui reproduzi, dá pra repensar o final da matéria da Veja:


A utilização massiva da internet, das redes sociais e de blogueiros amestrados faz parte das táticas de engodo e manipulação da verdade no Brasil. Internautas, fiquem de olho neles.


De olho em manipulações, Veja? Diante da acusação a sua única estratégia é empurrar uma a paranoica teoria da conspiração via Trending Topics? Isso realmente é tudo que a revista mais lida do país pode fazer para se defender? Jânio teria orgulho, viu?


Mas o baluarte da moral e dos bons costumes, Reinaldo Azevedo, já defendeu o seu palanqueA estratégia da ridicularização é tradicional deste blogueiro, que acusa os outros de sujos mas chafurda na lama da própria publicação. Ele distorce o que a própria revista disse em prol do que a revista quer defender. O discurso é o não dito pelo dito.


Mas a análise aprofundada desses episódios -- e em especial daquele identificado pelo marcador #vejabandida -- mostra que dois artifícios fraudulentos foram usados para fingir que houve adesão enorme ao movimento. Um robô, que opera sob o perfil “@Lu-cy_in_sky_”, foi programado para identificar mensagens de outros usuários que contivessem os termos-chave dos tuitaços, replicando-as em seguida. Além disso, entraram em ação “perfis peões”, ou seja, perfis anônimos, com pouquíssimos seguidores e muitas vezes criados de véspera, que replicam sem parar mensagens de um único tema (ou melhor, replicam-nas até atingir o limiar de retuítes que os tornaria visíveis aos mecanismos de vigilância de fraudes do Twitter.


Funciona assim: me perguntam se eu acredito em Deus, e eu digo que não. Depois afirmam que eu acredito em Satanás porque não acredito em Deus, pois uma coisa é o oposto da outra, logo é o lógico, certo? Da mesma forma, podem dizer que eu acredito na divindade como conceito, mas não no Deus cristão, pois o Deus assim, com maiúscula, não é sinônimo de Shiva, Rá ou Alá, mas apenas do Deus Cristão. Como não dei uma informação completa - porque, em verdade, a afirmação deveria se bastar -, a "lacuna" permite que preencham-na da maneira que aprouver ao interesse de quem interpreta a afirmação. E isso vai ser tido como verdade para quem quer ler assim.


Interessante é que o próprio blogueiro em outro texto de seu blog afirma que esses robôs são "pessoas que não existem":


No Twitter, como deixa claro a reportagem da VEJA, a realidade não é diferente. Também ali, tuitaços são organizados por gente que participa do jogo político, e robôs se encarregam de multiplicá-los por intermédio de perfis praticamente sem seguidores. São “pessoas” que não existem. Nas respectivas áreas de comentários dos sites noticiosos, você pensa estar debatendo com um outro homem ou mulher-célula (como você), com um indivíduo (como você), e, na verdade, está a enfrentar um militante ou um militonto partidário que representa uma legião. É absolutamente legítimo que as pessoas tenham partido e até mesmo que o defendam na rede. Mas não é legítimo que o tuiteiro esteja a cumprir uma tarefa da máquina partidária — a menos que se identifique como tal. Você pensa estar, no Twitter, aderindo a uma causa surgida na rede e, na verdade, é apenas peça passiva de manipuladores.


Posso interpretar esse "pessoas que não existem" como uma contradição dele, não? O que é mentira e o que é interpretação no caso? Porque a interpretação alheia baseada nos fatos recolhidos, ou seja, a entrevista com a tal @Lucy_in_Sky_, não é interpretação, mas mentira e a afirmação que ela é um robô é mentira e não interpretação.


E esse escudo Reinaldo Azevedo é apenas um dos escudos que a Veja utiliza. A publicação semanal, da banca de jornal, é ainda mais baixa.





O "verniz democrático" da Veja está presente, ainda, na capa da revista nessa semana, que - como todo bom conservador acuado - usa a sua bíblia, a constituição, para fazer valer os seus gritos desesperados. A constituição - ou carta magna, como gostam de dizer os conservadores - serve ao reacionário como a Bíblia serve ao religioso: é a suprema norma, que é usada sempre mais em defesa de seus interesses que em defesa dos interesses comuns; a estratégia é que se advogue que ela sempre defende os interesses comuns, pois é uma palavra de uma autoridade superior a nós. Logo, ao invocá-la, necessariamente seus interesses privados se tornam os interesses comuns. Nem sempre  é possível que uma lei ou conjunto de leis possa ser lida literalmente mas, no caso, tomada dogmaticamente, ela é usada de tal forma como arma contra o "inimigo", seja ele o demônio ou o comunista. E todos se irmanam contra o inimigo, pois querem estar do lado da palavra, e assim viram massa de manobra de interesses alheios. E a Veja assim procede, como se a luz fosse ela, última na escuridão da sociedade brasileira.

A estratégia da Veja é baixa e sem precedentes na história desse país. É só ler o próprio texto postado na página da revista, que mais uma vez distorce as acusações em prol de defender uma visão enviesada do que é a "liberdade" a "democracia".


A frase de efeito do início diz tudo: “A ética do jornalista não pode variar conforme a ética da fonte que está lhe dando informações. Entrevistar o papa não nos faz santos. Ter um corrupto como informante não nos corrompe.”

Essa afirmação está corretíssima, óbvio ululante. É como dizer que o meu papel é ser do bem. Qualquer um compra, é fácil.

É como um político. Todo o político é a favor de que se invista em agricultura, saúde, educação, trabalho e segurança - os cinco dedos do FHC, lembra?


E quero ver ainda um político dizer que não vai investir em qualquer uma dessas cinco coisas! E, da mesma forma, qualquer um sabe que sua ética não deve variar de acordo com quem te dá informações, porque o contrário disso é ser LEVIANO! É como dizer, ainda, que você é contra a violência sexual contra mulheres! Quem é a favor é CRIMINOSO, não?

Mas a demagogia serve ao discurso da "ética" e da "liberdade de expressão".

E, aliás, quem a Veja é pra falar em liberdade e em censura? Quem está censurando a Veja? Sua cúpula está sendo acusada de um CRIME, não é censura isso, é investigação! Investigação da Polícia Federal, que levou ao fato documentado de que a cúpula da revista tem relações íntimas com o Carlinhos Cachoeira e que a revista servia de veículo para seus interesses.

Mas a revista, no auge dos ataques contra seus supostos aliados, se fez de cega e apostou em outras capas, com assuntos diversos. Isso não é manipulação... isso é sonegar informação a seu leitor. Leitor que acreditou que o Arruda era a melhor opção para o governo. Arruda... aquele que após violar o painel do senado "deu a volta por cima".




Ah, a nota na frente da imagem se refere ao empenho no valor de R$ 442.462,50 que o governo de Arruda assinou para comprar assinaturas da revista Veja com o dinheiro público do Distrito Federal.

A Veja que, aliás, elegeu como mosqueteiro da ética o senhor Demóstenes Torres, aquele que é amigo do Cachoeira.



(Lembrando que, para a Época, ele também é um homem de "princípios e convicções".)

Meu problema em si nem é com o crime. Este, se foi cometido, será julgado e, espero, os responsáveis punidos. Meu problema é em uma revista como a Veja defender liberdade e ética. Como bem disse o Mino Carta em um texto publicado hojeEle se refere ao editorial do Globo de hoje“Roberto Civita não é Rupert Murdoch”, uma peça de corporativismo digna, sei lá, de comunistas (camaradagem é coisa de comuna, né?)! E, claro, ataca o filhote mais querido de Mino, a Carta Capital. Bem, eu sei que há de se duvidar sempre dos dois lados, mas não posso deixar de concordar com o trecho a seguir:

Vamos, de todo modo, à vezeira acusação de que somos chapa-branca. Apenas e tão somente porque entendemos que os governos do presidente Lula e da presidenta Dilma são muito mais confiáveis do que seus antecessores? Chapa-branca é a mídia nativa e O Globo cumpre a tarefa com diligência vetusta e comovedora, destaque na opção pelos interesses dos herdeiros da casa-grande, empenhados em manter de pé a senzala até o derradeiro instante possível.

Sim, porque Gilberto Freyre saberia identificar claramente esses sinhôzinhos que enxergam qualquer possibilidade de perder seus espaços como afronta, atentado e terrorismo. Não sou a favor do que o PT se tornou, mas não sou cego quanto ao que o governo de Lula e Dilma representam perante ao mundo de FHCs, Collors e (urticária) os milicos.

A senzala interessa à Veja, tanto que lemos em seus textos palavreado digno de nojo de tão incompreensíveis (Olavo de Carvalho feelings, again).

Nesse caso nem assusta que o blog de política da Veja seja intitulado Maquiavel. Pra revista, a defesa de sua liberdade e ética é mero maquiavelismo (lembrando que nada isso tem a ver com o Nicolau): os fins justificam os meios. E, como já Napoleão o fez, a Veja se acha o Príncipe. E para esses príncipes, os fatos

E, como bem diz o blogueiro (sujo, né Reinaldo?) Rodrigo Vianna:
Fatos não são o forte de “Veja”: dólares para o PT trazidos em caixas de whisky (que ninguém nunca viu), contas no exterior de gente ligada ao lulismo (jamais  encontradas, mas noticiadas como verdadeiras), queda de Hugo Chavez em 2002 (comemorada antes da hora,  com uma capa vergonhosa), grampo sem áudio (hoje, graças a outros grampos com áudio do esquema cachoeira, sabe-se porque o grampo sem áudio virou notícia na “Veja”)…


Aliás, aconselho muito a leitura desse texto do Vianna. Ele mostra como a Veja foi capaz de acreditar no Boimate: o cruzamento de um boi com um tomate! Não é de se espantar, haja vista que é a mesma revista que ainda vive na guerra fria e acusa seus inimigos de serem comunistas leitores de Gramsci! Sim, todo inimigo do "sistema democrático capitalista, baseado na inovação, na economia de mercado e na livre-iniciativa" é um Trotskista. E existem desses em toda esquina, esperando pra comer criancinhas indefesas. A inovação do capitalismo não impede a Veja de acreditar em um complô comunista via internet contra a revista. E quem vive no passado é militante de esquerda, né?

É Veja... mas que quiprocó, héin?



terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Jesus e o cachorrinho


E o facebook, que já era o palco substituto do sensacionalismo à lá Cidade Alerta, virou a farra do boi!

De um lado aqueles que desejam a cabeça da enfermeira que agrediu um Yorkshire até a morte deste.

Do outro, pessoas que se dizem indignadas com as pessoas que se preocupam mais com os direitos dos animais que com direitos humanos.

Pra mim, é doente quem acha que não há nada demais em se maltratar um animal até a morte, bem como quem acha que isso não é motivo de indignação.

Mas não se exclui o fato de que há uma desmesurada comoção com os eventos de violência contra os animais em relação proporcional com a comoção para com a violência cotidiana contra outros seres.

Porém, diferente da opinião encontrada neste texto não considero essa uma falácia argumentativa, pois a atenção atrela-se a postura tipicamente atual de uma sociedade onde, como li num outro texto ótimo que postei hoje no meu facebook, "a quebra dos laços sociais alçou os animais de estimação à categoria de senhores absolutos".

Vivemos em uma sociedade de pessoas isolacionistas, que se protegem com o escudo da internet para despejar tanto seus preconceitos, quanto o politicamente correto.

É excelente poder estar em uma sociedade onde as pessoas podem dar sua opinião abertamente.

Nós vivemos numa época onde qualquer pessoa pode ler uma receita de um bolo feito na República Tcheca ou um livro do Durkeim sem sair de sua poltrona.

Mas, da mesma forma, a consequência da liberdade de expressão é uma autorregulação social natural derivada da possibilidade de TODOS poderem opinar.

Quando as pessoas dão a cara a tapa na internet, elas agem em prol do que acreditam sem medos, pois não são pessoas físicas e situações físicas.

Muitos que hoje se expressam abertamente sobre o que pensam do mundo antigamente não o fariam em seus grupos sociais com medo de represálias.

Agora seus grupos sociais são virtuais.

Eles são mediados com apenas um clique num botão que exclui aquela pessoa de seu círculo, ou deleta o comentário que vc não quer ver.

Logo, perdeu-se o medo de opinar, pois a réplica é mediável!

E, assim, confunde-se inconsequência com opinião.

Outra maravilha criada no âmbito do facebook é o botão de compartilhamento.

Ele permitiu que tudo chegue a todos imediatamente.

Assim, se vc nutre o mais vil gosto, vc não mais se esconde: vc sabe que há alguém dentre as bilhões de pessoas que compartilham esse gosto.

Compartilha-se preconceitos, censuras, campanhas e mobilizações.

Mas poucos compartilham reflexão, ideias ou ainda levam essas discussões pra outro âmbito.

Tenho acompanhado algo interessante que demonstra claramente a falta de noção das pessoas sobre o que é o politicamente correto.

É um exemplo que podemos usar para refletir, também, sobre o caso do pobre cachorrinho.

Há uma página no facebook chamada "Jesus Bêbado".

Ela propaga brincadeiras e críticas severas e, porque não, ofensivas à religião, especialmente a cristã.

Da mesma forma que outras páginas, como a "Eu ODEIO o Corinthians (GAMBÁZADA)" que propaga brincadeiras, muitas extremamente ofensivas, com corinthianos.

E é só procurar que vocês acharão mais coisas do tipo.

Mas, eis que um grupo de cristãos quer banir a página do "Jesus Bêbado".

O argumento do grupo é "Ela é, totalmente, abominável, e sarcástica com todos os que acreditam em Deus!"

Podem falar que eu estou exagerando mas, em pleno século XXI, "Jesus Bêbado" está sendo acusada, vejam vcs, de heresia!

Porque nenhum corinthiano vai mandar fechar a página "Eu ODEIO o Corinthians (GAMBÁZADA)" porque se sente ofendido.

Provavelmente ele vai abrir uma ofendendo quem ofende o corinthians.

O que temos aqui, e no caso da enfermeira, é a desvirtuação da ideia de politicamente correto em prol de uma necessidade de expressar a todo custo que vc se importa, seja lá qual for a opinião.

Vivemos a ditadura do indignado.

Sua opinião é válida, mas desde que encarada dogmaticamente, ela é imposição.

Não tem como dizer que maltratar um animal é defensável.

Isso não é uma opinião.

Isso posto, penso que a reflexão deve dar-se no meio termo entre duas leituras: por um lado, um crime é um crime e merece punição; por outro lado, há mais coisas para se pensar e refletir que a mera reprodução de um discurso massificante sobre a punição.

A generalização é imbecilizante, e o argumento sempre perde força.

Mas é importantíssimo nos atermos a duas consequências dessa propagação da indignação internética, uma boa, outra ruim.

(1) A divulgação de retratos de criminosos, bem como de campanhas de mobilização são maneiras de tornar esse Facebook finalmente mais do que um simulacro das relações sociais.

Da mesma maneira, a simples existência de uma possibilidade de engajar-se num debate, ter acesso a diversas opiniões e poder refletir a respeito disso é um fruto muito bem vindo das redes sociais.

Qualquer possibilidade de exercer seu senso crítico, de debater e de conhecer mais é bem vinda.

Se o Facebook, filtrando as bobagens, pode permitir que nossos debates de salas de aula, reuniões de amigos, bares e etc. saiam desse espectro e atinjam mais pessoas e permitam a reflexão, ele já vale a existência.

(2) A tendência à falácia é constante e quase inescapável, bem como a falta de noção das pessoas de que um espaço público de divulgação de ideias precisa de bom senso, senão vira apenas um palanque de oradores vazios, pros dois lados.

Não entendo, por exemplo, como pessoas podem reclamar de uma enfermeira que massacra um yorkshire e continuar indo em rodeios.

O problema da maioria das pessoas é a falta de argumentos, ou da noção argumentativa.

Se vc defende a vida, como eu defendo, divulgue a cara dos criminosos para que eles sejam presos.

Agora, divulgar corpos de animais estraçalhados, cenas de morte e violência em nada ajuda quem foi vítima.

Bem como reclamar a esmo pra que as pessoas vejam que vc é uma pessoa indignada só demonstra que a moda de "xingar muito no twitter" mudou apenas de rede social.

E todo mundo tirava sarro da fãzinha do Restart...

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Um biquíni e três redes sociais


Uma vez, uma aluna minha adolescente e muito bonita reclamou que os colegas dela viam as fotos dela de biquíni no orkut e ficavam a assediando.

Eu coloquei algumas questões à ela.

Primeiro: Por que essas fotos estavam lá?

Segundo: Por que estavam visíveis para todos?

Terceiro: Por que você adicionou esses caras no seu orkut se eles são tão babacas?

Ela não soube responder nenhuma das questões.

Hoje, o orkut está agonizando. O facebook é a moda.

800.000.000 de usuários. Um fenômeno.

E, com tanta coisa nas mãos, Zuckenber viu que era bom... e quis mais.

Agora muitas pessoas estão descobrindo que suas vidas estão mais expostas no facebook do que pensavam.

O caro Zuck expandiu a interatividade e a integração entre os seus parceiros:

http://www.gizmodo.com.br/conteudo/nao-curti-porque-a-integracao-do-facebook-e-na-verdade-antissocial/

Mas não é só isso. Agora, quando você dá logout no seu facebook, alguns dados seus permanecem sendo enviados a ele, sabia?

http://oglobo.globo.com/tecnologia/mat/2011/09/26/facebook-registra-dados-de-navegacao-do-usuario-mesmo-apos-logout-925450718.asp

E, como o orkut foi tido como inseguro, fonte de vírus e coisas do tipo, a explosão do facebook já começou a trazer esse alarme para os usuários.

Mas, antes de fugir para o Google + ou apagar a sua conta do Twitter, pense comigo...

Qual realmente é o limite da privacidade de alguém que aceita fazer parte de uma rede social?

Realmente, as pessoas que entram nessas redes acham que estão seguras?

Será que, em algum momento, alguém que posta suas fotos na rede realmente acha que ninguém, ninguém mesmo é capaz de vê-las além de seus amigos selecionados?

Eu que me assustava quando as pessoas começaram a sair do orkut alegando, dentre os motivos mais esdrúxulos, a falta de segurança e privacidade da rede.

Lembra quando isso começou?

Quando a internet se tornou popular, as pessoas de classes C, D e E começaram a usar lan houses e surgiram os perfis frutos da inclusão digital.

Mas os membros das classes A e B, que queriam as redes sociais - e o mundo - só pra eles não podiam conviver com os desvios gramaticais, com as pessoas supostamente mal educadas e com os perfis cheios de musiquinhas e coisas coloridas.

Fugiram, assustados, para o 'orkut de playboy', o Facebook.

Coisa de primeiro mundo, organizado.

Só em inglês, exclusivo.

Bem, agora que o facebook virou o novo orkut, o que as pessoas vão fazer?

Há muito de alarmismo nessa história.

Quem não sabe conviver com a exposição de redes sociais não deve ir atrás disso.

Você não precisa de uma rede social pra viver a sua vida.

Mas, quem se sente invadido possui os recursos que as próprias redes dispõe pra proteger a suposta privacidade dos perfis.

Mas, mais sério que isso: porque alguém quer privacidade numa rede social?

Porque as pessoas só querem que alguns poucos amigos leiam o que elas escrevem, vejam suas fotos, saibam dos seus gostos?

Será que as redes estão muito pouco seguras, ou somos nós que não aprendemos a lidar com essa nova sociedade da super exposição?

Entendo que alguém restrinja os subgrupos de amizade de sua página.

Deixe-a aberta apenas para quem a interessa, e defina níveis de abertura.

Algumas fotos visíveis para apenas alguns amigos, postagens apenas para alguns.

Nisso o Facebook falha miseravelmente.

Nem adianta, não dá mais pra esconder o que você faz. Se quer fazer isso, saia do Facebook.

Ou o limite a um mínimo grupo que te interessa.

O Facebook não é para pessoas que querem privacidade. O orkut não era. O Google+ um dia será assim também.

Redes sociais são e continuam sendo veículos para produtos.

Só que a diferença é que você é um desses produtos.

Você não paga por isso, mas alguém lucra com a venda da sua exposição.

Você já parou pra pensar nisso sob essa ótica?

Os produtos que você compra na verdade estão atrás de sua vida pra te vender exatamente o que você quer.

E o Zuck apresenta uma ferramenta que pode dar a eles acesso a todos os seres humanos.

Privacidade na era da informação é uma utopia.

O capitalismo compra sua privacidade sem que você nem saiba e a vende para quem pagar mais.

O Zuckemberg criou o mais lucrativo sistema de ganhar dinheiro dos últimos anos, mas em suma o que ele faz já existia: ele comercializa vidas.

A sua é só mais uma delas... e nem deve valer tanto, nem precisa ficar desesperado com isso.

Se você quer mesmo usufruir das redes sociais, saiba se expor.

Seja cabeça aberta, ou mesmo não exponha nada.

Use apenas para papear nos chats com os amigos.

A nossa geração abre o facebook antes de abrir o e-mail. Isso é um fato.

E agora, não sabe conviver com ele.

Ninguém precisa de redes sociais.

É uma necessidade criada, incutida em nós.

Eu me assumo viciado. Mas me divirto horrores.

Tenho plena consciência do que tá lá, exposto, sobre a minha vida.

Pelo menos do que eu permiti estar.

Isso não é uma crítica... é uma constatação.

E, ademais, uma reflexão séria sobre o real limite da privacidade dos homens do século XXI.

Entendo perfeitamente sua necessidade de privacidade.

Não acho certo que as pessoas sofram por estarem expostas ao mundo de pessoas nefastas que temos hoje em dia.

Nesse caso, dentre todas, o Google+ por enquanto ainda é a melhor opção.

Mas não venha me dizer que eu não avisei.