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terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Precisamos falar sobre Olavo

O astrólogo Olavo de Carvalho, na Veja.

Um dia desses, compartilhei esse texto do Diário do Centro do Mundo sobre o autointitulado filósofo e ex-astrólogo Olavo de Carvalho. Dentre os comentários ao texto, um grande e inteligentíssimo amigo - daqueles que fazem você ainda ter vontade de permanecer no Facebook - ofereceu-me uma peça para a reflexão: a fama do pensador conservador é responsabilidade de seus seguidores, apelidados de olavetes, mas também da esquerda dá ibope para ele, rebatendo as coisas que ele diz, que são evidentes inverdades, baseadas numa percepção simplista da relação de forças entre esquerda e direita. Segundo esse amigo, Olavo tem ideias tão fracas que deveria ser ignorado pelos seus detratores.
Eu penso o exato contrário, e esse texto serve pra explicar o porquê.


quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Rolezinhos: um diagnóstico de uma sociedade doente

Essa foto na verdade é do antigo Cinema Marabá, em São Paulo, mas serve como ilustração de como era o Cine Itapetininga

Eu não tive uma adolescência em shoppings. Eu morava em Itapetininga, cidade do interior de São Paulo, que na época não tinha um estabelecimento do tipo. Quando ia a algum shopping era com meus pais, em Sorocaba, pra fazer algumas compras, especialmente no Carrefour. Quando eu saí de Itapetininga, começaram a construir o shopping da cidade. Hoje o prefeito de lá é justamente o dono do shopping.
Só me lembro de uma coisa que esse shopping fez: o cinema antiquíssimo da cidade foi demolido e transformado em um estacionamento. O cinema dava pra um calçadão enorme, que desembocava numa praça. Demorei para querer assistir cinemas em shoppings justamente por isso, por revolta mesmo. Achava um absurdo demolir um cinema pra substituir por essas salas pequenas e padronizadas de shoppings. Eu juro pra vocês: o cinema de Itapetinga tinha uma sala em que cabiam umas 200 pessoas, bem espaçadas. Possuía um mezanino gigante em cima, e uma arquitetura que lembrava  uma versão mais modesta dos grandes teatros do início do século XX. Sua tela era o triplo dessas de cinema de shopping (eu conheci o IMAX bem antes de muita gente). Assisti lá desde os filmes dos Trapalhões mais clássicos até Rei Leão. Haviam sessões de cinema que eram pagas com passe escolar, pra estimular a molecada a ver filmes, e muitas vezes você podia ficar no cinema de uma sessão pra outra pra ver dois filmes em seguida. Ninguém sabe o que é isso hoje em dia.
Essa, se não me engano, foi a primeira vez na minha vida que eu senti certa consciência política contra algum tipo de símbolo capitalista, ou que eu reconheci no avanço do capital um perigo que podia minar as coisas que eu amo e que fazem parte da minha vida. Posso dizer que foi uma das primeiras vezes que eu me revoltei de verdade contra o sistema.
E sim, esse texto é sobre os rolezinhos.

sexta-feira, 21 de junho de 2013

O custo de 20 centavos

O blog Muralhas de Troia é um espaço, essencialmente, para expressar as impressões de mundo deste ser que vos fala, e que quem conhece sabe que fala muito. Porém, mesmo com tanto pra falar, demorei muito para escrever algo aqui sobre as manifestações que percorrem o Brasil por três motivos principais: falta de tempo, pois eu tenho um doutorado pra escrever; falta de assunto, pois todos os veículos que sigo e os amigos já haviam dito, em suma, tudo o que eu pensava e achei que mais compensava compartilhar suas palavras e ideias que reproduzir as mesmas num texto que, nessa conjuntura, seria apenas mais um; o receio da falta de um horizonte que, agora, se assevera sobre os manifestantes. O horizonte era o transporte público, o que me lembra outra coisa que preciso reaver para comentar o estado das coisas.


quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Tiger, Tiger, burning bright...



Leonardo Soares/UOL

Ontem, a bagunça no Morumbi me deixou, mais uma vez, triste com os rumos do futebol.

Não, não é comum torcedores refletirem no Brasil. Muita gente por aí apenas faz coro às provocações de todos os lados, defende seu time como quem defende um ente querido (às vezes até mais) e fecha seus olhos pra todo tipo de atitude esdrúxula que cometem os dirigentes. É o cara que desce o pau no Lula por causa de casos de corrupção mas, quando ele vem e favorece o seu Corinthians, o Lula é herói. É o cara que votou no Eurico Miranda, no Marco Aurélio Cunha, na Patrícia Amorim. Mas, antes de comemorar mais um título do meu time do coração, tenho que refletir. Antes de ser torcedores, mesmo que muitos não pratiquem isso, somos seres pensantes, de senso crítico e que querem o bem do semelhante.
Por essas e por outras, eu tenho que ser chato: a diretoria do SPFC, como tem sido sua tônica, foi extremamente irresponsável. Não apenas ao limitar o acesso do time do Tigres ao gramado, mas principalmente por permitir que o show da Madonna causasse esses supostos problemas (e usar isso de desculpa foi bem tosco). Não deveriam nem ocorrer shows no Morumbi, nunca. 
Claro, catimba é do futebol, mas essa atitude da diretoria só deixou as coisas mais confusas. O que não justifica de maneira nenhuma as várias atitudes deploráveis do Tigre. Se não tiver rolado nenhuma das supostas agressões que os jogadores do Tigre alegam, o time merece uma punição muito severa, porque nada mesmo justifica tamanho papelão.

G1 (Foto: Agência Reuters)

E acordo com mais notícias sobre a zona lá no Morumbi:

- Segundo o Birner, com informações da Fox Sports:

"A PM falou que foi lá para separar uma briga de seguranças são-paulinos e a delegação do Tigre.
O problema aconteceu no corredor, não no vestiário.
Envolveu toda a comissão técnica e os atletas do Tigre. mais de 20 pessoas, contra 10 seguranças são-paulinos, ou menos, tal qual afirmou a polícia.
A confusão aconteceu após os jogadores hermanos, ainda dentro de campo, tentaram entrar no vestiário são-paulino para brigar, tal qual relatou a equipe da FOX Sports.
A direção do São Paulo alega que os boleiros do Tigre fizeram o mesmo pelo corredor e os seguranças impediram"

- já os jogadores do Tigre afirmam que tinha gente armada no vestiário do Morumbi, como afirmaram ao Olé!:

"Me tuvieron que coser, esto es desde el arranque. No nos dieron lugar para entrenar, no nos dejaban. Nos estaban esperando para cagarnos a palos. Una locura. Quería terminar ser campeón ob subcampeón", explicó Galmarini, dolido. "Treinta tipos, estaba todo armado, una tontería,un mamarracho sin sentido", agregó, golpeadísimo. "Sacaron fierros, cagones, sacaron revólveres para amenazar. Hubo zona liberada, nos cagaron a palos", siguió el relato el experimentado jugador. Pasó en en el regreso al vestuario. Según todo Tigre, los agredieron con violencia y estaba todo armado. "Estaban los patovicas y uno de ellos sacó el revólver. Y empezaron a pegar y lastimar. entró la policía y los agarró a palos. Una locura", se quejó Gorosito.


Olé! aliás que defende a ferro e fogo os argentinos, se comportando como toda imprensa burra que temos hoje no futebol, aqui ou lá, que não enxerga além do próprio nariz das rivalidades e infantilidades e defende apenas seus "compadrinhos".  É ridículo o SPFC fazer o que fez, mas virou algo tradicional esse tipo de comportamento nos jogos da América do sul, infelizmente. Quantas vezes não vemos pilhas, cadeiras e outros objetos jogados em campo? Quantas vezes não vimos jogadores passarem por situações de horror dentro e fora do campo, desde ameaças (só lembrar do que vem acontecendo sistematicamente com o Palmeiras) até assassinatos (sempre me lembro do colombiano Andrés Escobar, em 94). O que o Tigre fez ontem (e não falo apenas da recusa em voltar a campo, mas de toda a violência em campo) é passível de uma punição muito severa se a Conmebol quiser ser respeitada.
Mas não quer, como bem disse um amigo no facebook, o futebol sul-americano está mal organizado, marcado por artimanhas e bizarrices varzeanos desde muito tempo. Lembrem-se do foguete do Rojas. Mesmo ele tendo sido punido depois, no país do futebol, a fogueteira posa pra Playboy e a várzea continua.  Não há greves, boicotes, nada. Apenas cada vez mais várzea e falta de organização.
G1 (Foto: Miguel Schincariol / Ag. Estado)

Em outra conversa de facebook, com um camarada Corinthiano ele citou esse texto extremamente pertinente do Yahoo!, com o qual eu concordo em muitos pontos. Porém, sempre vou bater na mesma tecla: foi a mesma "orkutização" (eu também ODEIO esse termo) que deu ibope e visibilidade o suficiente pra levar o Corinthians a, como clube da massa, ganhar privilégios junto aos poderosos em relação aos outros clubes, além de entrar em falcatruas como o Itaquerão. Isso, nas mãos de corruptos como Dualib, Kia e Andrés deu origem a uma relação espúria com a Globo e CBF que criou uma "marca Corinthians" com a qual eu não corroboro e acho que torcedor nenhum deveria corroborar, pois representa tudo de errado que há no futebol. Quando o Lula vai lá e banca essas coisas, por exemplo, ele compra o torcedor pobre que se enxerga nele (corinthiano, pobre, nordestino, etc.) em prol de um bando de criminosos que deitam e rolam no dinheiro público e destroem nosso futebol. Da mesma forma, não concordo com a putaria da diretoria do São Paulo, que destrói o gramado pra um show da Madonna um fim-de-semana antes do grande jogo do ano pro time e vive tomando atitudes equivocadas que em nada lembram o time glorioso de pouquíssimo tempo atrás. Além, é claro, do Senhor Juvenal, que cada vez mais me deixa chateado em torcer pelo meu time, além do apoio do Rogério Ceni ao Serra e coisas do tipo. Nem precisa falar do Palmeiras, né, que conseguiu a façanha de voltar pra 2ª divisão... acho que por mais popular que sejam, não podemos deixar de lado os bastidores podres de todos esses clubes só por sermos torcedores. Eu já comentei sobre isso aqui aqui. E como disse dessa vez, o que importa ao torcedor alienado é soltar rojão e gritar a plenos pulmões a vitória de um futebol podre.
E antes que me taquem la petaca, como bem disse o Birner, no mesmo post que mencionei:

Aos problemáticos
Há pessoas que, independentemente do fatos, têm opinião formada.
Elas odeiam os rivais mais do que amam seus times.
Os adversários, para elas, estão sempre errados.
Todos os clubes possuem torcedores assim. Isso é do ser humano, não de uma agremiação ou de outra.
Argumentos inteligentes são sempre bem-vindos.
Eles podem mudar a opinião dos outros ou no mínimo enriquecer a discussão com  visões diferentes dos fatos.
Xingamentos, berros internéticos e acusações emotivas, sem nenhuma explicação inteligente, geram efeito contrário. Eles fortalecem os argumentos dos outros.



No mais, pra aplacar a tristeza, uma linda despedida do Lucas com um gol e ovação da torcida. Esse sim, um cara que merece aplausos, que merece títulos e sucesso. Jogou um bolão. E, no mais, é mais um título, mais um pra coleção.

Por Rubens Chiri/saopaulofc.net
Mas que rumo tomará não apenas o país, mas o continente que vai sediar a próxima Copa? Continuará sendo várzea? A Conmebol continuará a fazer vistas grossas e a tratar o futebol dessa maneira? E nenhum clube, torcedor ou quem quer que seja fará nada?
Por isso que um Sócrates Brasileiro é tão ovacionado no futebol: porque é coisa rara...



terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Jesus e o cachorrinho


E o facebook, que já era o palco substituto do sensacionalismo à lá Cidade Alerta, virou a farra do boi!

De um lado aqueles que desejam a cabeça da enfermeira que agrediu um Yorkshire até a morte deste.

Do outro, pessoas que se dizem indignadas com as pessoas que se preocupam mais com os direitos dos animais que com direitos humanos.

Pra mim, é doente quem acha que não há nada demais em se maltratar um animal até a morte, bem como quem acha que isso não é motivo de indignação.

Mas não se exclui o fato de que há uma desmesurada comoção com os eventos de violência contra os animais em relação proporcional com a comoção para com a violência cotidiana contra outros seres.

Porém, diferente da opinião encontrada neste texto não considero essa uma falácia argumentativa, pois a atenção atrela-se a postura tipicamente atual de uma sociedade onde, como li num outro texto ótimo que postei hoje no meu facebook, "a quebra dos laços sociais alçou os animais de estimação à categoria de senhores absolutos".

Vivemos em uma sociedade de pessoas isolacionistas, que se protegem com o escudo da internet para despejar tanto seus preconceitos, quanto o politicamente correto.

É excelente poder estar em uma sociedade onde as pessoas podem dar sua opinião abertamente.

Nós vivemos numa época onde qualquer pessoa pode ler uma receita de um bolo feito na República Tcheca ou um livro do Durkeim sem sair de sua poltrona.

Mas, da mesma forma, a consequência da liberdade de expressão é uma autorregulação social natural derivada da possibilidade de TODOS poderem opinar.

Quando as pessoas dão a cara a tapa na internet, elas agem em prol do que acreditam sem medos, pois não são pessoas físicas e situações físicas.

Muitos que hoje se expressam abertamente sobre o que pensam do mundo antigamente não o fariam em seus grupos sociais com medo de represálias.

Agora seus grupos sociais são virtuais.

Eles são mediados com apenas um clique num botão que exclui aquela pessoa de seu círculo, ou deleta o comentário que vc não quer ver.

Logo, perdeu-se o medo de opinar, pois a réplica é mediável!

E, assim, confunde-se inconsequência com opinião.

Outra maravilha criada no âmbito do facebook é o botão de compartilhamento.

Ele permitiu que tudo chegue a todos imediatamente.

Assim, se vc nutre o mais vil gosto, vc não mais se esconde: vc sabe que há alguém dentre as bilhões de pessoas que compartilham esse gosto.

Compartilha-se preconceitos, censuras, campanhas e mobilizações.

Mas poucos compartilham reflexão, ideias ou ainda levam essas discussões pra outro âmbito.

Tenho acompanhado algo interessante que demonstra claramente a falta de noção das pessoas sobre o que é o politicamente correto.

É um exemplo que podemos usar para refletir, também, sobre o caso do pobre cachorrinho.

Há uma página no facebook chamada "Jesus Bêbado".

Ela propaga brincadeiras e críticas severas e, porque não, ofensivas à religião, especialmente a cristã.

Da mesma forma que outras páginas, como a "Eu ODEIO o Corinthians (GAMBÁZADA)" que propaga brincadeiras, muitas extremamente ofensivas, com corinthianos.

E é só procurar que vocês acharão mais coisas do tipo.

Mas, eis que um grupo de cristãos quer banir a página do "Jesus Bêbado".

O argumento do grupo é "Ela é, totalmente, abominável, e sarcástica com todos os que acreditam em Deus!"

Podem falar que eu estou exagerando mas, em pleno século XXI, "Jesus Bêbado" está sendo acusada, vejam vcs, de heresia!

Porque nenhum corinthiano vai mandar fechar a página "Eu ODEIO o Corinthians (GAMBÁZADA)" porque se sente ofendido.

Provavelmente ele vai abrir uma ofendendo quem ofende o corinthians.

O que temos aqui, e no caso da enfermeira, é a desvirtuação da ideia de politicamente correto em prol de uma necessidade de expressar a todo custo que vc se importa, seja lá qual for a opinião.

Vivemos a ditadura do indignado.

Sua opinião é válida, mas desde que encarada dogmaticamente, ela é imposição.

Não tem como dizer que maltratar um animal é defensável.

Isso não é uma opinião.

Isso posto, penso que a reflexão deve dar-se no meio termo entre duas leituras: por um lado, um crime é um crime e merece punição; por outro lado, há mais coisas para se pensar e refletir que a mera reprodução de um discurso massificante sobre a punição.

A generalização é imbecilizante, e o argumento sempre perde força.

Mas é importantíssimo nos atermos a duas consequências dessa propagação da indignação internética, uma boa, outra ruim.

(1) A divulgação de retratos de criminosos, bem como de campanhas de mobilização são maneiras de tornar esse Facebook finalmente mais do que um simulacro das relações sociais.

Da mesma maneira, a simples existência de uma possibilidade de engajar-se num debate, ter acesso a diversas opiniões e poder refletir a respeito disso é um fruto muito bem vindo das redes sociais.

Qualquer possibilidade de exercer seu senso crítico, de debater e de conhecer mais é bem vinda.

Se o Facebook, filtrando as bobagens, pode permitir que nossos debates de salas de aula, reuniões de amigos, bares e etc. saiam desse espectro e atinjam mais pessoas e permitam a reflexão, ele já vale a existência.

(2) A tendência à falácia é constante e quase inescapável, bem como a falta de noção das pessoas de que um espaço público de divulgação de ideias precisa de bom senso, senão vira apenas um palanque de oradores vazios, pros dois lados.

Não entendo, por exemplo, como pessoas podem reclamar de uma enfermeira que massacra um yorkshire e continuar indo em rodeios.

O problema da maioria das pessoas é a falta de argumentos, ou da noção argumentativa.

Se vc defende a vida, como eu defendo, divulgue a cara dos criminosos para que eles sejam presos.

Agora, divulgar corpos de animais estraçalhados, cenas de morte e violência em nada ajuda quem foi vítima.

Bem como reclamar a esmo pra que as pessoas vejam que vc é uma pessoa indignada só demonstra que a moda de "xingar muito no twitter" mudou apenas de rede social.

E todo mundo tirava sarro da fãzinha do Restart...