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terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Por que é burrice pedir o afastamento de Renan Calheiros?

Esse texto é uma reunião de postagens, comentários e outras elucubrações que venho fazendo acerca do tema nos últimos dias, principalmente na minha página pessoal do facebook. Resolvi publicar no formato de texto com o intuito de esclarecer minha posição, aos que já me conhecem, e abordar um outro espectro da questão que não tenho visto ser abordado por aí.


Meu nome no facebook é Fábio Gerônimo Guarani Kaiowá. Apesar de terem tentado (e conseguido) eliminar esses nomes ligados à essa causa do facebook, eu por algum motivo consegui manter o meu. Fiz isso como um apoio à causa dos índios Guarani-Kaiowá, que estavam ameaçados de extinção pela ação criminosa de senhores de terra dos rincões do velho-oeste brasileiro. Eu não preciso explicar toda a situação, suponho, mas me lembro que rolou pelo facebook uma petição online pelos Guarani-Kaiowá. Eu assinei, obviamente, acreditando que a petição efetivamente poderia ajudar a solucionar a questão. Acredito no poder de mobilização coletivo em prol de uma causa, e é fascinante que a internet possa permitir uma ação do tipo. Eu não julguei, no momento, que aquela ação poderia ser inútil efetivamente: apenas julguei que eu estava contribuindo um pouco com algo que, pra mim, é dever de qualquer defensor da vida humana.
Mas e a mudança do nome? Há vários motivos, diferentes pra cada pessoa (a Eliane Brum traz um excelente texto sobre o assunto). Pra mim, a mudança tinha outra via de ação: ao integrar-se nominalmente ao grupo que eu queria defender, simbolicamente eu defendia que eu fazia parte daqueles que se entregavam à morte perante a máquina compressora dos ditadores do campo. Eu obviamente não iria morrer de fato, mas é como se eu dissesse ao mundo que a morte daqueles seres é a minha morte também. Aliás, mais que isso, é a morte de qualquer um de nós, a morte de nossa ética, de nossa decência, de nosso bom senso e justiça. Além disso, permiti a cada pessoa que visse meu nome pensar, mais uma vez, naquela causa tão urgente. Não é apenas uma postagem que fica pra trás na longa timeline do facebook, mas o meu nome: sempre presente, afixado na minha existência virtual. Por esse último motivo que eu não removi o nome da tribo ameaçada do meu facebook, como alguns amigos fizeram quando, dada a pressão, começou-se a rever a questão da demarcação de terras dos Guarani-Kaiowá. Eu sei que, mesmo que uma vitória tenha sido conquistada, a vida desses seres ainda está em perigo, e tudo pode mudar a qualquer momento. É um protesto, também, perante gente como a bancada ruralista do congresso, gente como Regina Duarte, defensora dos direitos dos donos de terras, e Kátia Abreu, da própria bancada, dianteira na pressão exercida sobre a presidente em favor dos interesses desses criminosos.
O ciberativismo, como está sendo chamado, se tornou o responsável por essa e por outras ações que geraram efetivas mudanças a curto prazo. É sempre lembrada a famosa Primavera Árabe, motivada por jovens conectados em rede, com anseio de mudança. Mas nenhuma dessas ações obteve sucesso exclusivamente pela movimentação da rede. Sempre foi necessário ações concretas fora do mundo virtual em prol do sucesso das empreitadas, sendo o palco internético o espaço de agregamento de ideias, de informações e, principalmente, de pessoas e logística.
Esse é o gancho para entrar objetivamente no assunto do texto que, propositalmente, exponho no titulo de maneira polêmica e agressiva.
A mobilização virtual fomentada pelo jovem Emiliano Magalhães contra o senador das Alagoas Renan Calheiros (PMDB) foi uma ação das mais populares no meio virtual brasileiro dos últimos anos. Eu recebi essa petição (e vários clones e petições derivadas) todo dia tanto por facebook e email (não vi o twitter porque o twitter morreu e ninguém usa mais). É um pedido tão repetido, tão insistente, que você chega a se sentir mal por não aderir, como se você não estivesse cumprindo seu dever cívico de lutar pela decência e moral no seu país, afastando a corja corrupta do congresso com o poder que as novas tecnologias te oferecem. Ao invés de compartilhar memes, piadinhas e outras bobagens, eu estaria efetivamente contribuindo pro futuro do meu país, numa ação realmente construtiva.
Tudo uma tremenda bobagem demagógica, hipócrita e inútil.
Vivo postando textos sobre política no facebook, manifestações diversas, mas sempre alinhadas à minha visão de mundo, ou seja, esquerda, doa em você ou não. Esse tipo de postagem é mais útil do que muita gente pensa, pois serve para fomentar o debate, de todos os lados, e a única coisa tão importante quanto a leitura na formação do conhecimento humano é o debate. Por isso não sou contra manifestações políticas no facebook, muito pelo contrário, eu as acho fundamentais. Mas nenhum debate que comece e termine na internet é frutífero de verdade, sabe? As pessoas não leem as coisas, não prestam atenção e compartilham qualquer coisa. Pouco importa se eu concorde ou não com sua opinião, eu sempre espero que as pessoas que estejam compartilhando algo no facebook o façam porque você conhecem e corroboram com os argumentos que defendem. Eu não vejo isso no comportamento das pessoas, elas reproduzem o discurso alheio sem atentar para o que existe por trás das propostas que elas dizem defender. Eu apostaria que 90% de quem compartilhou a tal petição online não sabe nada sobre o "Renangate", capaz de nem saberem de que estado ele vem. Acho que ativismo virtual é verdadeiramente útil quando ele não exclui o real e quando ele gera reflexão, o que não é o caso.
Mas e o caso dos índios? Todos bem sabem que as petições online foram apenas uma das diversas ações empreendidas em defesa deles. Houveram manifestações de todos os lados, pessoas saíram às ruas, foram até as aldeias. A petição sozinha não tem força alguma, nem tem o valor efetivo de um abaixo-assinado real, mas pode servir como uma de várias ferramentas para a conscientização. Como a mudança dos sobrenomes.
As pessoas que compartilharam e insistiram pela sua assinatura o fizeram por três razões: uma é a efetiva ilusão de que a coisa funciona, por desinformação; a segunda é a ilusão de estar fazendo a coisa certa, de estar contribuindo para algo, que gera uma aceitação por parte da sociedade - a não assinatura está ligada diretamente aquela impressão de não ser cidadão, que comentei antes - e um conforto espiritual; a terceira razão é a ilusão de segurança: quem não sai às ruas pra protestar não toma borrachadas, não é perseguido, ou seja, o ativismo no conforto do sofá garante ao agente fazer a sua parte sem se mover... é o ativismo moderno, a mobilização delivery, muito melhor explicada neste post do Observatório da Imprensa.
Mas essa não é a minha única bronca.
Como já postei no facebook, a corrupção não é o maior dos problemas da nossa política, nem o menor. É um problema endêmico, epidêmico, que faz parte de PT e PSDB, só pra citar dois espectros mais visivelmente opostos da política nacional (e cada vez mais semelhantes). Os corruptos de hoje só se diferenciam dos de ontem por duas coisas: são mais novos e estão sendo punidos. No governo FHC tivemos diversos casos de corrupção, denunciados pelos mesmos jornalistas que hoje falam de mensalão e Cachoeira. Mas o que a maioria das pessoas reclama sobre a corrupção no governo federal é mais grave justamente por ser a continuidade de um esquema que parece indissociável do nosso modelo político atual do que por ser uma traição ao seu voto de confiança. Muita gente votou no Collor e, arrependido, votou no FCH. O ciclo de arrependimento os levou a elegerem o Lula e depois a votarem no Serra, sem sucesso. Esse arrependimento vem do fato de que as pessoas estão anestesiadas - muito por culpa de nossa mídia - em estágio de eterno torpor, com um discurso decorado e propagado sem muita mudança por todos: todo político é corrupto. Mas ser de esquerda não te torna menos responsável, e ser de direita não te torna um poço de moral. Votar nos corruptos de ontem não é melhor que votar nos de hoje, e não resolve nada, apenas te dá a ilusão de mudança. Mas como todos sempre prometem saúde, educação e moradia e a mídia sempre promove os roubos e falcatruas, as pessoas (com razão) desacreditaram totalmente no modelo político atual. E esse é um dos maiores, senão o maior perigo pra uma democracia: quando os cidadãos perdem a confiança na legitimidade dos seus representantes.
Isso nos leva de volta ao Renan Calheiros:
Será que todas as pessoas que clamam contra a eleição do Renan Calheiros à presidência do senado sabem exatamente o que um presidente do senado faz?
Será que todas as pessoas que compartilham abaixo assinados pedindo sua cassação sabem como funciona o sistema de cassação de parlamentares no país?
Será que todas as pessoas que reclamam da corrupção nunca votaram em um corrupto?


Meu comentário todo é baseado no fato (sim, isso é um fato) de que cada vez mais as pessoas compartilham informações das quais ela não tem certeza ou mesmo que nem são verídicas apenas pelo fato de que, compartilhando, elas se sentem bem pela ilusão de fazer algo. É o caso do tal site de petições que, efetivamente, não tem poder algum sem uma mobilização séria, daquelas com papéis e assinaturas reais. No texto do Observatório, o especialista em internet faz um comentário sobre a possibilidade de o ativismo virtual substituir o ativismo real (marchas, manifestações, etc.), pois ele é mais seguro (ninguém apanha da polícia) e permite o anonimato. Mas isso pode acabar dando origem a um ativismo restrito ao mundo virtual, o que seria muito danoso pra democracia. Eu acho importantíssimo o espaço das redes tanto do ponto de vista simbólico (o caso do meu sobrenome no facebook), quanto da pressão efetiva, mas o exemplo claro de que certas mobilizações estão com o foco errado é que essa petição contra o Renan Calheiros surgiu antes de sua eleição, foi comentada até pelos congressistas e, mesmo assim, ele acabou eleito! O que é complicado no caso são duas coisas: o fato de o Renan poder se reeleger para qualquer cargo político (pois lá na terra dele ele SEMPRE vai ganhar) e o fato das votações na câmara e no senado serem sempre secretas. No fim, por vezes, nem sabemos se as pessoas em quem votamos realmente estão defendendo nossos interesses.
Outra coisa equivocada na maioria das pessoas é a visão do que é um corrupto: tecnicamente, por mais que pessoas gritem aos quatro ventos contra ele, o Lula não é um corrupto. Ele é considerado um corrupto porque o relacionamos aos casos de corrupção promovidos pelos membros de seu partido, o PT, como o Mensalão. Mas não há provas contra ele, pelo menos não para o STF, que nem o incluiu nos seus julgamentos. Logo, se eu não voto no Lula porque ele é ACUSADO de corrupção, eu não deveria votar em 90% dos políticos, como Serra e até o FHC, todos acusados - pela mídia ou pelos populares - de algum escândalo de corrupção. O que quero dizer é que as pessoas dizem que o Lula é corrupto porque boa parte da grande mídia o designou dessa forma, logo compramos o discurso alheio mais uma vez como se ele fosse a verdade quando, em suma, ele é uma interpretação dos fatos. A mesma coisa acontece, PASMEM, com Renan Calheiros: houveram seis representações contra ele no conselho de ética mas ele renunciou antes, por pressão "popular". Tecnicamente, ele não foi nem julgado, renunciou ao cargo de presidente e manteve o cargo de senador. E cadê o povo pra exigir o prosseguimento dos processos? 


Afastar Renan Calheiros da presidência, em suma, nada muda na política nacional. Ele tem que ser julgado e punido, não apenas afastado de uma função pra voltar logo depois. Mas enquanto os mecanismos políticos vigentes permitirem que ele volte, ele voltará, até morrer. Por isso continuam no congresso tantas figuras julgadas e condenadas pela opinião pública e até pela justiça. Alguém sempre vota nesses caras, alguém não se importa nem um pouco com nenhum escândalo político, ao contrário: se sente feliz com a presença desses caciques no poder sempre. O atual presidente da Câmara dos Deputados, por exemplo, é congressista há 42 anos!


Não é o Renan que precisa sair: ele precisa de julgamento e, caso seja comprovado como criminoso, de punição. Mas antes de tudo, é preciso repensar nossa democracia e nossa política.
Mas, numa democracia onde o STF pune Zé Dirceu por saber demais e sequer indicia Lula, por ele não saber de nada, há algo de muito estranho acontecendo...

PS: quer fazer algo de realmente útil relacionado à política na internet: visite o site Votenaweb e conheça as propostas de todos os nossos políticos. Você pode debater e votar (voto simbólico, é claro) nas propostas que você acha boas ou ruins para o país.

domingo, 16 de setembro de 2012

Diga-me com quem andas...




Todos que me conhecem sabem que eu sou leitor da Carta Capital. Acho que, nesse jornalismo semanal que se estabeleceu no país, ela é a melhor das revistas, até porque o parâmetro de comparação (Veja, Época e Isto É) é muito baixo, e está diretamente ligado ao lado da balança com a qual eu não me afino. Desculpem aqueles que não acreditam nisso, mas eu sou de esquerda e sempre vou ter mais simpatia com essa cara da moeda filosófica ocidental que com a velha coroa. De qualquer forma, me assustei ao ler o texto de Marcos Coimbra sobre o julgamento do suposto mensalão.
Não, eu não acredito na tese de que tenha existido o mensalão nos moldes que a mídia apregoa. Não acho, ainda, que todos os acusados sejam realmente tão criminosos quanto se quer. Odeio esse pré julgamento, que já decidiu que todos são culpados porque são políticos, não porque são suspeitos. Acreditar na tese de uma corrupção plena e irrestrita que comanda toda a política nacional é ser tão massa de manobra quanto achar que x ou y são inocentes. As pessoas não percebem, mas a desilusão política substituiu o senso crítico no país de tal forma que a única coisa discutida é a corrupção. Não se debate o sistema que leva a corrupção, como está estruturada nossa política e como conduz-se o modelo eleitoral brasileiro. O mensalão e todo e qualquer caso de corrupção são tratados sempre (e a mídia é a mola mestra disso) como ESCÂNDALO. Ou seja, tem a mesma profundidade que a próxima escapulida do Adriano de um treino do Flamengo.

Por isso eu não compro a tese do mensalão como ela se apresenta. Mas também não sou cego ou burro: algo aconteceu. O que, para os articulistas da Carta Capital, os pôs numa complicada berlinda.
Eles são apoiadores irrestritos do governo do PT, como eu sempre fui. Isso não é problema, aliás. Eu gostaria que todos os veículos assumissem a sua diretriz ideológica e seus candidatos como a Carta e o Estadão fazem, cada um pro seu lado. Mas ninguém pode simplesmente negar o que está acontecendo pelo simples fato que seus aliados podem estar caindo. Ao fazer isso, a Carta Capital e o seu articulista não se diferenciam tanto de Veja e seu feroz cão de guarda, o Reinaldo Azevedo.
Se a suprema corte brasileira, o STF, é o único detentor do direito de julgar de verdade o caso e não a mídia, como sempre apregoa Mino Carta, por que agora se ataca o STF? Porque se faz julgamentos ad hominem, procedimento adotado pela própria Veja e tão criticado pela mesma Carta? A que propósito se coloca o texto de Marcos Coimbra senão defender os interesses de seus patrões, tão envolvidos com PT quanto a Veja com os Democratas e Tucanos?

Uns fazem saber que andam de motocicleta, outros que são exímios músicos, alguns se apresentam como poliglotas. Identificamos seus times de futebol, os restaurantes que frequentam. Às vezes, até seus negócios e os ambientes inadequados que frequentam.

Eu concordo que há uma espetacularização excessiva em tudo na nossa mídia. Mas isso permite que ponhamos em dúvida a lisura dos ministros por eles aparecerem em demasia na mídia? Ou é apenas uma maneira de descaracterizar o julgamento, esvaziando o sentido dele e permitindo apenas uma visão do que ocorre? O que dizer do Joaquim Barbosa, que de herói da revista virou vilão após decidir condenar os "mensaleiros"? Quer dizer que a Carta apoiará Gilmar Mendes se esse decidir não punir ninguém?
A única coisa que realmente temos que ficar atentos é se os juízes estão cumprindo seu papel de julgar, não aplaudir quando se faz a justiça que queremos de um lado ou de outro. Não sou também imbecil de achar que a nossa corte é incorruptível, mas de que adianta apenas defender a corte quando ela julga pro seu lado? Eu não acredito na inocência de metade das pessoas ali e, pra ser bem sincero, acho que nem o Zé Dirceu é 100% inocente, apesar de não termos provas contra ele. É desonestidade, pra mim, criticar a Veja por colocar o Marcos Valério em sua capa acusando o Lula de chefiar a "quadrilha" e depois desmerecer o supremo por absolver o João Paulo Cunha só porque este é "amigo do chefe". Escolher como capa um problema que desvia o foco do assunto principal ("O amianto mata") para proteger os seus patrícios condenados parece não ser mais estratégia apenas da Veja.
Por isso temos essa visão infantil da política nacional: porque nossos veículos informativos confundem ideologia com patriciado. Eu ainda tenho muito respeito pela revista sim, sou seu leitor, mas eu me não sou burro. Espero que a Carta perceba seu erro e não caia nos mesmos erros dos semanários que tanto tem criticado pelos anos. Pelo bem do país.

sábado, 25 de agosto de 2012

Síndrome de Jiban do povo brasileiro



Eu voltei a assistir uma das séries mais legais da minha infância esse ano, graças a um grande amigo que, como eu, é fã desses seriados live-action japoneses: Kidou Keiji Jiban ou, no Brasil, o Policial de Aço Jiban. Além da péssima dublagem e de algumas bizarrices que você não nota (ou não se importa) quando é criança, percebi algo muito curioso nas chamadas "Leis Biolon", ou seja, as leis aplicadas pelo herói exclusivamente para os casos que envolvem criminosos da organização Biolon, os vilões da série. Seguem as cláusulas:

- Clausula n.º 1 da Lei Biolon: O Policial de Aço Jiban tem o direito de prender qualquer criminoso em qualquer circunstância, sem um mandato de prisão.
- Clausula n.º 2: O Policial de Aço Jiban, quando considera alguém como Biolon, pode submetê-lo a uma pena pelo seu próprio julgamento.
- Anexo a Clausula n.º 2: Conforme a circunstância é permitido até mesmo executá-lo.

Esse modus operandi do Policial de Aço Jiban é o sonho de muita gente no Brasil e o pesadelo de qualquer democracia. Por mais caricato que seja, a ideia de que um herói é aquele justiceiro à margem da lei, que pune severamente os criminosos que a justiça comum não puniria é muito perigosa e, claro, só funciona bem na ficção. Hollywood, desde sempre, promoveu esse estereótipo, bem como os quadrinhos e games. Mas muita gente gostaria de transportar essa premissa para realidade e, pior, muita gente ASSUME esse discurso quando tocamos em vários assuntos do nosso cotidiano.


Tenho visto uma imagem circular no facebook (sempre ele) desde que o ministro Ricardo Lewandovsky decidiu não punir no processo do 'mensalão' o deputado João Paulo do PT, Marcos Valério e seus asseclas. Ela diz que o povo brasileiro tem vergonha do ministro, pois ele não puniu dois criminosos que roubaram o dinheiro do povo. Isso porque, apesar desse ser o 'maior julgamento da história do país', é o único julgamento onde todos já entraram culpados mesmo sem serem réus confessos.
Essa imagem prova que o brasileiro tem síndrome de Jiban.
Uma ala da população espera, dos ministros do STF, apenas uma sentença: a punição dos "acusados"pelo mensalão. É aquela ala que acha que sabe tudo de política e criminalidade, mas que nessas horas só repete o discurso de papagaio de que todo político é ladrão, de que todos querem roubar e nem sabe explicar o que é o mensalão. Me chama muito a atenção que as pessoas critiquem o voto do Lewandowski e não saibam explicar pelo que João Paulo Cunha e Marcos Valério estão sendo acusados. Se você perguntar pra maioria das pessoas, elas provavelmente vão dizer apenas que os acusados roubaram dinheiro do povo. E não sabem mais nada sobre nenhum dos acusados ou das acusações... só que todos devem ser punidos.
Responda-me: o que é peculato? Qual a pena para esses crimes? Quem são os acusados e qual é o papel de cada um no esquema? Porque o Gushiken foi absolvido?
É como se um mendigo fosse acusado de assassinato, mas ninguém tivesse visto o crime, não soubesse quem morreu e nem como a coisa procedeu. Mas  o assassino, pelo espaço que ocupa, pela marginalização, é culpado de antemão. Não queremos julgar, só punir e executar.
Nem precisa ir muito longe: quantos casos vemos por aí todo dia onde uma turba de pessoas ameaça linchar um pobre coitado que é preso por ser acusado de cometer algum crime hediondo, e vemos que a polícia tem que montar uma operação para impedir a fúria medieval das pessoas? Muitas vezes, nem dá tempo de impedir a fúria dos "Jibans".
Mas isso não acontece apenas de um lado. Eu sou leitor assumido da Carta Capital pois, em geral, ela tem uma posição muito mais próxima à minha que outros semanários podres, como Veja e Época. Uma posição evidentemente mais à esquerda, obviamente.
Mas, em sua sanha de atacar a mídia inimiga e defender seus "compadres" petistas, a Carta às vezes exagera. Como quando o colunista Leandro Fortes colocou em questionamento a atuação do STF por conta do voto do relator do processo, o ministro Joaquim Barbosa, apenas porque ele votou pela cassação dos acusados. A Carta partiu do pressuposto de que o mensalão é uma mentira, o que é a mesma coisa que se faz do outro lado, e defende com unhas e dentes a tese de que esse julgamento é armado para derrubar PT e seus comparsas e livrar a cara de outros acusados. Mas a própria Carta já viu o ministro como exemplo, quando este pôs o dedo na cara de Gilmar Mendes, que está longe de ser flor que se cheire.
Eu vejo - e acho que é evidente para qualquer um de bom senso - que a grande mídia tem abusado do sensacionalismo ao lidar com o esquema supostamente criminoso, ou "o julgamento do século", mas também acho difícil não ter ocorrido crime nenhum.

Como foi precipitado julgar o juiz Barbosa, o mesmo acontece com o Lewandowski. Assim como tudo nesse "julgamento", já se quer condenados os culpados antes da culpa ser atribuída... Agora, a minha pergunta é: e os OUTROS culpados? Os de sempre? É só ver essa matéria da Carta Maior, na qual vemos os beneficiários de boa parte do dinheiro público roubado no esquema:

"Segundo relação apresentada pelo ministro, a TV Globo foi a campeã em recebimento de verbas públicas para publicidade (R$ 2,7 milhões), seguida pelo SBT (R$ 708 mil) e pela Record (R$ 418 mil). Entre os impressos, o Grupo Abril, que edita a revista Veja, foi quem mais lucrou (R$ 326 mil), seguido pelo Grupo Estado (R$ 247 mil) e pelo Grupo Folha (R$ 247 mil). A fundação Vitor Civita, do Grupo Abril, recebeu outros R$ 66 mil."

Lewandowski, justamente, foi quem levantou essa bola: “Se essa corte entender que o percentual de subcontratação foi de 99,9%, terá que pedir ressarcimento dos R$ 7 milhões recebidos de boa fé pelos veículos de comunicação do país”, disse. Mas, com certeza, você não verá nenhum desses dados em montagens do facebook. Porque a mentalidade das pessoas é rasa como um pires, e só se importa em botar na cadeia o político ladrão.
Como bem disse um amigo meu no facebook, sobre o caso Lewandowski: "O revisor absolveu o réu de em acusações que foram rejeitadas por 3 ministros do STF quando da sua apresentação. Ele as havia acolhido na oportunidade, e mudou de ideia analisando as provas. Bom exemplo da justiça sendo feita. E a transmissão disso tudo ao vivo, é bom exemplo da nossa democracia."
Sim, é só ligar na TV justiça... passa lá, todo dia.
Seria muita ingenuidade crer na tese de que nenhum dos acusados é culpado, como é mau caratismo afirmar que qualquer um é bandido desde que se torna um político. E, principalmente, um julgamento não serve para condenar ninguém apenas, ele serve para esclarecer o ocorrido, punir só quem é culpado e absolver quem não tem culpa.
Mas não. O pessoal prefere ir ao perfil do ministro Lewandowski no facebook e ofendê-lo. Porque é assim que se faz justiça, né?
Quer ser uma pessoa REALMENTE consciente do que tá acontecendo? Leia todos os jornais e revistas à sua disposição, dos dois lados. Confira a transmissão ao vivo do julgamento na TV Justiça. Seja menos alienado e vamos conseguir começar a mudar as coisas. Porque, muitas vezes, não são os políticos os únicos culpados de tudo acabar em pizza.

PS: Já que falei em Jiban:


quarta-feira, 4 de julho de 2012

Libertadores é Cosa Nostra

http://admala.deviantart.com/art/Blind-Deaf-Mute-90007490

Uma coisa que me irrita (porque hoje acordei revoltadinho, bebê) é a sanha de "corinthianice" nesse dia de final. Sei que há uma onda a favor do Boca, aquela que só quer ver o Corinthians perder, que sempre vai ser assim porque a rivalidade futebolística é eterna. Mas há algo mais grave, que os torcedores desse time não percebem, é o quanto todos perdem com essa vitória. A CBF, por exemplo, mudou o jogo Palmeiras e Coritiba pela final da Copa do Brasil de horário em prol da transmissão da Globo da Libertadores. Sim, foi um erro marcar esse jogo para a mesma semana da final do mais importante torneio das Américas - e nem adianta falar em Copa América, só gente inocente acredita nisso -, mas isso não dá a CBF e Globo o direito de prejudicar os times, especialmente o torcedor Palmeirense, que vai ter que ir às 21h50 para o estádio e voltar pra casa sabe-se lá como. A ideia, provavelmente, é não "prejudicar" sua grade televisiva (= novelas) com duas transmissões de jogos em seguida, quando sabe-se que a transmissão da final da Copa do Brasil não terá tanta audiência quanto o jogo da Libertadores.
Mas eis que, para o espanto geral, a Globo decidiu não transmitir o jogo da Copa do Brasil! Como diz a notícia, querem evitar que o jogo prejudique a audiência da estreia da mais nova bobagem do Pedro Bial (que um dia já foi jornalista) e da novela Gabriela. Como sabemos, desde a ditadura quem define os campeonatos e suas tabelas é a Globo, não por acaso, sempre temos jogos de Corinthians em "dias de transmissão", quarta-feira e domingo. Tanto que as pessoas nem param pra pensar que foi a própria Globo quem criou esse hábito de que jogos de futebol são sempre nos mesmos dias e horários.
O site Verdazzo publicou uma manifestação de repúdio à decisão da Globo, o que pode soar como birra de palmeirense para alguns. Mas se fosse o seu time o prejudicado, você também não ficaria enfurecido? Além do que, como rival histórico, a promoção do Corinthians é a maior violência que poderia ocorrer contra um palmeirense.
http://mariangela-variedades.blogspot.com.br/2010/09/mais-voce-presta-homenagem-ao.html
Na verdade, eu afirmo mais: na sua gana de salvar a sua moribunda audiência e seus parceiros comerciais de erros estratégicos diversos cometidos nos últimos anos, a Globo transformou o Corinthians em inimigo público nº1. Não que antes os torcedores não torcessem contra, mas o verdadeiro ódio contra o time e o torcedor do Corinthians cresceu mesmo desde a vitória do Mundial em 2000. Quer tirar a prova é só entrar no facebook, o melhor termômetro do comportamento humano atual, para ter a noção de que as provocações em geral tem um gosto de amargura, a que o torcedor corinthiano cego classifica como inveja. Essa amargura acompanha o torcedor brasileiro em geral há anos, mas cresceu muito desde que "ousaram" dizer que o Corinthians era o único time ganhador de um mundial interclubes. Isso ofendeu principalmente os torcedores de São Paulo e Santos, até então únicos detentores do título no estado, e de Palmeiras, há anos lutando pelo título e que já tinha ganho algo que o Corinthians ainda almejava: a tal Libertadores. Como um time que não passou pelo torneio americano pode se dar ao luxo de se dizer Campeão do Mundo? A incompetência da Fifa serviu apenas de combustível para a rixa.
Mas a "corinthianização" da mídia não seria nada se a CBF não contribuísse para tanto. Com o elefante branco chamado Itaquerão realizou-se um duplo crime: sobre a esperança do Corinthiano em ter seu estádio oficial - e que cruel é jogar com as esperanças dos homens -, construiu-se um duto de escoamento de dinheiro público muito útil aos cartolas e políticos interessados na Copa do Mundo. E com um garoto propaganda como o Lula, nada pode dar errado né? Até porque ele só é garoto propaganda de algo, pra mídia, quando sua figura "popular" pode "vender" alguma coisa.
http://esportes.r7.com/blogs/cosme-rimoli/tag/andres-sanches/
O Itaquerão não é o único exemplo de desmando da CBF, óbvio, ela é historicamente uma instituição podre. Mas a partir do momento que CBF e Globo se aliam, a coisa fica feia. A Globo defende a CBF como quem defende um filho, isso todo mundo sabe. Nessa, a escolha dos estádios da copa ficou totalmente enviesada em prol dos mandos políticos, baseada na incompetência política de dirigentes dos outros clubes brasileiros e na esperteza de um certo Andrés Sanchez.
Andrés é esperto, cobra criada. Ao virar gente graúda, fez o que quis da CBF, ou seja, botou o Mano Menezes na seleção e conquistou apoio para o Itaquerão. Assim, da mesma forma, fez o seu time crescer em importância econômica e política, coisa relegada aos cariocas ou aos playboys do SPFC. O Corinthiano se esquece que esse iminente fumante é cria do mafioso Dualib, e que eles foram reponsáveis por instalar a máfia russa, trazendo MSI e Kia pro time. A ilusão de Carlitos Tevez culminou num rebaixamento, a maior vergonha para o Corinthians em sua história. Mas, tal qual os três macacos sábios, não se ouve, vê nem se fala nada. E, claro, com o sucesso do Corinthians, as figurinhas carimbadas reaparecem. Se o time está ganhando, ninguém se importa com corrupção, seja no futebol, seja na política. O rouba mas faz não é exclusividade do mais novo aliado do Lula.
Em matéria muito reveladora do caráter do Sánchez e das diretrizes tomadas nas decisões por trás da Copa do Mundo, temos a seguinte situação, em matéria da Revista Época (e reproduzida daqui):

“Não aguento mais essa p...”, gritou Sanchez, em sua sala de presidente, numa fria manhã de setembro. “Fico aí, me matando, e ainda sou chamado de ladrão.” O palavrão designa o clube com uma das maiores torcidas do Brasil. Mas é apenas um desabafo. No fundo, Sanchez é um sujeito profissionalmente feliz. Sabe que faz a gestão mais produtiva da história do clube. Controversa, sim. Mas vai deixar um legado inegável: um centro de treinamento que custou R$ 50 milhões e é o mais moderno da América Latina, a terceira camisa mais valorizada publicitariamente em todo o mundo e o clube brasileiro que mais arrecada com propaganda. De acordo com a consultoria financeira Crowe Horwath RCS, cujo sócio brasileiro é o vice-presidente de finanças Raul Correa da Silva, a marca Corinthians passou a ter o maior valor de mercado do futebol brasileiro: R$ 867 milhões. O Corinthians ainda terá, em dois anos, um estádio próprio na Zona Leste paulistana, o Itaquerão. Ele está sendo construído pela Odebrecht – ao anunciado custo de R$ 780 milhões. Sanchez aposta que será lá o jogo de abertura da Copa do Mundo de 2014. Ao ser perguntado sobre o Itaquerão, obra que só vai sair graças a um financiamento a juros baixos do BNDES e a incentivos fiscais dos poderes públicos, Sanchez travou o seguinte diálogo com o repórter de ÉPOCA: 
– Quem fez o estádio fui eu e o Lula. Garanto que vai custar mais de R$ 1 bilhão. Ponto. A parte financeira ninguém mexeu. Só eu, o Lula e o Emílio Odebrecht (presidente do Conselho de Administração da Odebrecht).
– O dia em que essa história vier a público, vai ficar feio para quem?
– Não vai ficar feio pra ninguém. Vai ficar, talvez, não imoral, mas difícil para o Lula.
– Por quê?
– Porque vão falar: “Pô, como é que uma empreiteira se submete a fazer isso? Por que o presidente pediu?”. É o que insinuam até hoje.

http://www.quidnovi.com.br/novo/noticia/detalhe.asp?c=6758&t=R
As propícias e suspeitas alianças tem dedo de mais gente graúda. O primeiro é Ronaldo, que de jogador em fim de carreira se tornou influente empresário e mediador de várias tramoias do meio. Ele assumiu a carapuça, virou ecude de Andrés e Ricardo Teixeira, e não aprece se sentir desconfortável com isso. Ainda mais que é amigo de gente muito influente e perigosa, como os supracitados, além de Luciano Huck, o braço mais tucano - e também global - desses criminosos. Eles formam um bloco de bastidores muito firme e que emprega todos os esforços pra ganhar dinheiro e cada vez mais influência política no meio não apenas futebolístico, mas midiático também. Afinal de contas, o narigudo apresentador é figurinha fácil em todas as páginas de facebook no Brasil, né? 
E o termômetro do sucesso do Corinthians é o ibope da Globo, que mesmo com o projeto centenário fracassando continuou em alta. E os bastidores dessa final são assustadores de acompanhar. Com a entrada da Fox Sports no mercado das tvs por assinatura, o filhote esportivo da Globo na tv fechada, o Sportv, perdeu muita força. A Fox exigiu os direitos de transmissão da Libertadores, o que gerou toda uma celeuma que quase culmina na não entrada do canal na tevê por assinatura no Brasil, o que demonstra a influência que a Globo tem. Perdendo boa parte do campeonato e a sua audiência, a Globo tomou um violento golpe na sua já decadente audiência. E teve que reagir.
Com jogos de outros times (como o próprio Palmeiras) atingindo abismos de 12 pontos de audiência, e jogos como o Corinthians e Vasco atingindo 34, fica evidente o porque da Globo achar que o Corinthians é "o Brasil na Libertadores". Daí você vê que o jogo contra o Santos rendeu 43 pontos, melhor audiência da Globo desde 2010, e que o da Bombonera deu 42... não tem como ficar alheio a esses dados. Ainda mais quando você quem está ganhando dinheiro com isso (dados do Cosme Rímoli).
E tome Corinthians na tv: Romarinho virou o novo Neymar, Galvão deixou de ser vascaíno e virou Corinthiano, e hoje de manhã, até o Louro José está fazendo propaganda do Corinthians. 
Pra mim, o Corinthians é o favorito ao título, pois o maior craque desse time se chama Tite, o técnico em seu melhor momento no Brasil e no auge de sua carreira. E não se assuste se, numa cartada genial, o Tite assumir a Seleção depois do fracasso do time de Mano nas Olimpíadas. Até porque, já que essa competição foi tirada da Globo, ela não mais interessa, né? É até melhor que o time perca, daí o Corinthians ganha o Mundial e o Tite vira o técnico pra copa.
http://www.paraiba.com.br/2012/06/29/00455-dani-bolina-faz-camisa-do-boca-juniors-de-pano-de-chao-em-ensaio
Não é birra de São Paulino, porque se meu time não está aí é por uma gigantesca incompetência de sua diretoria. Sou o primeiro a atacar Juvenal Juvêncio e sua gana pelo poder, e torço de verdade para que meu time perca esse Brasileiro e mude alguma coisa na sua política, antes que seja tarde demais e aconteça o que aconteceu com Corinthians, Palmeiras, Grêmio, etc. Mas o Corinthians e sua diretoria são reincidentes e estão, junto da CBF e dos cartolas de outros clubes (Juvenal incluso) pisando sem dó no brasileiro. Esse povo que apoia as torcidas organizadas, que se envolve em política pra roubar descaradamente, que tem rolo com bandidos, é o povo que manda no futebol brasileiro. E, como o velho recurso do pão e circo, a vitória do Corinthians só servirá pra levantar a bola da tão criticada Copa do Mundo, justificando cada insensatez desse projeto maluco.
O problema é que o corinthiano não lerá esse texto como algo além de "birra de bambi". Ele não reconhecerá nada do que eu disse como algo ruim, como algo deplorável na verdade. Ele continuará, pela paixão cega e burra, alimentando esse círculo vicioso de intrigas e desmandos. Ele vai apoiar seu time até onde for, e eu entendo, pois é isso que um torcedor deve fazer. Provocar, aliás, é a alma do futebol. Não vou torcer pelo Boca apenas pelo descrito acima, mas também porque sou de uma torcida rival, é óbvio. Só que ser torcedor não me faz um alienado, um burro que empaca na própria ignorância e deixa se levar pelo discurso do "é campeão". Você, antes de ser torcedor é um ser pensante. O que leva meu irmão, por exemplo, a me questionar enquanto eu escrevo esse texto se eu tenho meu endereço real divulgado na internet. Sim, pois, o medo dele é que eu fosse agredido ou coisa pior por escrever um texto como esse. Ele sabe que a maioria das pessoas que age por paixão age de maneira irracional, e não tira a camisa de torcedor quando precisa refletir com parcimônia sobre as coisas. 
Eu sei que existem corinthianos conscientes, porque uma nação como essa produziu gente como o grande Sócrates. É uma nação grande, que merece ser respeitada e tratada com a importância que tem. Mas há muito tempo faltam os pilares básicos da democracia aos que gerem o clube. A vitória do Corinthians será a vitória de um jeito errado e criminoso de gerir um esporte. O Corinthiano MERECE uma Libertadores, o Tite merece, o Romarinho, o Danilo, o Jorge Henrique, o Cássio... mas o Brasil não merece a perpetuação desse modus operandi.

Ainda bem que o Magrão morreu antes de testemunhar o que estão fazendo com seu clube.

http://www.criativodegalochas.com/2011/12/04/socrates-saiba-tudo-sobre-a-vida-e-carreia-do-doutor/

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Quid pro quo 3

Antes de ler o texto, peço que leiam Quid pro quo 1 e 2

Imagem tirada daqui
E sugiro que leiam, sobre o mesmo assunto dos Quid pro quo, esse texto.

Bem, Logo ia acontecer.

Tendo que lidar com o lamaçal aberto pela relação Cachoeira-Veja, a mídia se expõe (ainda devagar, claro). E nessa, começam a surgir os quiprocós da própria. É só ler os textos de cada um dos veículos que trata desse caso e ver o que eles dizem sobre seus confrades ou inimigos. Interessante como as informações chegam diferentes por diferentes veículos de mídia.
Primeiro, o mesmo assunto via Estado de São Paulo e Carta Capital:

"Mesmo com apoio do senador Fernando Collor (PTB-AL) e de parte da bancada do PT, a CPI do Cachoeira desistiu nesta quinta-feira, 16, de pedir à Polícia Federal as gravações telefônicas das conversas entre o contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, com o jornalista Policarpo Junior, diretor da sucursal da revista Veja e um dos redatores-chefes da publicação."

Pela leitura, tem-se a impressão de que as gravações das conversas entre Cachoeira e Policarpo não serão alvo das investigações. Obviamente que, ao usar do verbo "desistir", o Estadão passa a impressão que o caso não interessa à CPI. O que é desmentido a seguir, na mesma matéria, quando se lê

"Diante da forte reação da oposição e de parlamentares da base aliada, a comissão preferiu apoiar uma proposta para pedir à Polícia Federal o repasse, ordenado por nome, de todos os grampos telefônicos feitos nas operações Vegas e Monte Carlo. Em termos práticos, a decisão não muda nada o intento de acesso às conversas do jornalista, mas foi um recuo político de quem pretendia carimbar uma relação promíscua da revista com Cachoeira."

Mesmo assim, nota-se um tom diferente do encontrado na Carta Capital, que desde a explosão do caso tem voltado toda sua munição contra sua inimiga editorial.


"O senador Fernando Collor (PTB-AL) apresentou à CPI um requerimento específico para obter os áudios em que o jornalista Policarpo Júnior, da revista Veja, é citado. O jornalista aparece em cerca de 200 conversas com Cachoeira. Collor e outros parlamentares querem saber se a relação entre os dois tinha alguma ilegalidade. O requerimento foi derrubado pelo relator, Odair Cunha (PT-MG). Ele afirmou que os áudios em que o jornalista é citado já estão à disposição da CPI e, portanto, não seria necessário um requerimento específico para isso."

Considerada "chapa branca" por muitos, a Carta apresenta a mesma matéria com outro tom, buscando esclarecer que o requerimento de Collor não foi aceito porque os áudios já estariam disponíveis, sendo o requerimento uma pressão do Senador, inimigo histórico da revista Veja.

Mas não há qualquer destaque na matéria ao contato estabelecido entre Vaccarezza (PT) e o governador Sérgio Cabral (PMDB), que apareceu ontem em matéria do SBT Brasil.
Exclusivo: Vaccarezza troca mensagens comprometedoras com Cabral

A Folha de São Paulo, em compensação, não apresenta uma linha de Veja e Policarpo, ou mesmo Collor, na sua página principal. Aliás, o espaço para a CPI diminuiu bastante visualmente.


Todas as matérias da página principal da Folha (print de 18/05/2012 às 10h18m) se relacionam com as relações entre os partidos da base aliada do governo e Cachoeira.

O Globo, que entrou no quiprocó pela defesa simplesmente ridícula de Roberto Civita, traz apenas matérias relacionadas ao caso Vaccarezza - Cabral. E também em um reduzido espaço de sua página principal: Petista promete blindar Cabral na CPI

Já o G1, o portal da Rede Globo, se esqueceu do Cachoeira. Em verdade, tá lá no meio das matérias menores, n canto esquerdo, entre coisas como "Transexual 'rouba a cena' em desfile" e "Veja mentiras comuns em currículos".

Vaccarezza (que eu não acho que seja alguém confiável) é o novo alvo de boa parte da mídia, e não me surpreende que seja justamente aquela acusada de fazer parte do paredão aliado à Veja. Os grupos que dominam a imprensa brasileira formam uma canalha conhecida desde a época da ditadura, e são famosos nessa manipulação de fatos. Não se isenta, contudo, a Carta Capital por não dar destaque ao Vaccarezza, mas pelo menos ela não deixou de lado Agnelo, governador petista, como a grande mídia afastou Perillo totalmente de suas matérias. Cadê o Perillo na Folha, no G1, no Estado, no Globo? Ninguém sabe, ninguém viu.

Ah, o site da Veja? Bem, veja você mesmo e tire suas conclusões.

E o quiprocó continua quente na imprensa brasileira...

PS: Sabia que o José Serra também tem contratos com a Delta? NÃO. Bem, ninguém fala mesmo, né?

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Quid pro quo 2

Clique para ler o Quid pro quo 1.


Bem, antes de tomar as duas atitudes imediatas que nos moveriam, dar play no vídeo sem pensar ou rechaçá-lo por ser protagonista do mesmo quem o é, é necessário refletir de maneira mais profunda e objetiva sobre o que representa esse discurso.

O senador Collor é um alvo fácil para qualquer crítica, ou melhor dizendo, é sempre pressuposição óbvia que suas palavras são indissociáveis de seu histórico, como presidente deposto por esquemas de corrupção. Isso posto, ouvi-lo pronunciar-se contra a corrupção é algo que causa urticária não apenas em mim, eu sei, mas em qualquer um que tenha acompanhado ou não o processo que o levou ao poder e, em seguida, o depôs mediante a opinião pública. O que está em jogo - e estará sempre, inescapavelmente - é a moral de qualquer palavra dita por este cidadão, mesmo já passados vinte anos de sua derrocada do posto maior da nação. Contudo, mediante as circunstâncias em que nossa política se construiu ao longo desses anos, de como se estruturou o poder e, principalmente, da mudança de certos paradigmas no jogo de forças que cada elemento representa, é necessário não apenas que um discurso como o posto aqui seja realizado, mas que saia, a meu ver, da boca do senador Collor. O que digo poderá soar contraditório, haja vista minha posição explicitamente esquerdista em todos os aspectos que concernem o humano, mas não é com esse verniz fácil também do comunista verborrágico que eu quero me colocar. 

O criminoso da vez é Roberto Civita, é Carlos Cachoeira, é Demóstenes Torres, Policarpo Jr., Perillo, Agnelo Queiroz e quem quer que faça parte desse esquema sujo. Mas, muito antes disso explodir como escândalo, criminosas relações entre o contraventor e a revista de Policarpo Jr. e Civita têm guiado a imprensa nacional há pelo menos 10 anos, como afirma o senador. É fácil, óbvio demais, desconsiderar o discurso de Collor mediante seu passado, mas se fosse exatamente a mesma peça oratória nas mãos de outra figura admirada do senado, como um Eduardo Suplicy ou algum que agrade a diretriz política pessoal, como Aécio Neves para os PSDBistas ou uma Ana Rita, para os PTistas, esse discurso talvez fosse reproduzido no Facebook, como um exemplo de moral e retidão do senador, bem como utilizado como denúncia em montagens diversas e também fáceis em seu alcance, propósito e divulgação. Mas, criminoso por criminoso, como não se perdoou Collor, não se deve perdoar Demóstenes, Cachoeira e Policarpo. Não se deve perdoar a Veja, ou mesmo o grupo Abril. 

São Policarpo e Civita que levam à escola de seus filhos uma revista sustentada pelo crime organizado, que se vale de interesses escusos e cria factóides em prol de uma moral distorcida e enviesada. A Veja não é assustadora pelo quanto vende, mas pelo quanto é DISTRIBUÍDA. Ela é lida gratuitamente em escolas, em consultórios médicos, em casa, no vizinho, na universidade, no SESC. Se Collor é eternamente o presidente criminoso derrubado pelo Impeachment, pelos "caras-pintada", ele é o mesmo presidente posto no poder por Civita, por Marinho, o "caçador de marajás" da clássica revista Veja da época de sua eleição. Não é baluarte de moral, mas desde quando a Veja, a Abril, a Globo o são? Desde quando meios que tem relações escusas com bandidos diversos como Ricardo Teixeira, Cachoeira e outros é alguém a ser considerado? Se se critica Lula e o PT por alianças com gente como Sarney e o próprio Collor, porque não se criticar a Veja por sua aliança com Cachoeira? Porque não criticar Policarpo por defender em CPI o próprio Cachoeira, em escândalo denunciado pelo próprio Collor no vídeo acima? Quem pode se chamar de baluarte da moral em meio a essa "confraria" de bandidos? Aliás, a pergunta maior é o que torna a imprensa a única detentora da moral, se é ela também que detém em suas mãos o maior poder da era da informação, que é a veiculação da própria?

É muito bom para a nação que esse discurso tão claro, pontual e verdadeiro, seja proferido por quem foi. O que tudo isso implica, a reflexão que constrói, é capaz de levar-nos para um outro lado da discussão política, para além do discurso empobrecido e sucateado de "todos são corruptos" ou de "todo problema no Brasil é causado pela corrupção". O que é o nosso senado, a nossa câmara, o nosso sistema político partidário? E, ademais, o que é a nossa imprensa, qual o poder que ela realmente possui, o que se faz dela e na mão de quem ela está? Ainda mais grave: na era da informação, onde está essa informação?

Não sou capaz, ainda, de aplaudir o senador Collor. Mas sou capaz de ouvir esse discurso como um sintoma de uma mudança de paradigma que nos obrigará a passar sem medo por questões difíceis como sigilo da fonte, liberdade de imprensa e reforma política. Ou isso, ou apenas nos conformaremos, e nunca daremos play no vídeo acima.

terça-feira, 15 de maio de 2012

Quid pro quo




Segundo a Wikipedia:


Quid pro quo é uma expressão latina que significa "tomar uma coisa por outra". Refere, no uso português e de todas as línguas latinas, uma confusão ou engano. Tem origem medieval, tendo sido usada, na sua origem, para referir um engano no uso de termos latinos num texto. Também podendo significar "Isso por aquilo".
O seu significado nos países anglo-saxônicos evoluiu num sentido diferente, e é aí usada agora como como significando uma troca de bens ou serviços. É também aí muitas vezes usada como sendo troca de "favores".



A revista Veja, aquela em que se pode confiar, que defende a moral e a ética, virou alvo... E, depois de muito fugir da raia, resolveu se defender!


A seguir, trecho de texto publicado em 12/05, sob o título: Falcão e os insetos: guerrilha digital envenena o Twitter, onde a revista Veja acusa Rui Falcão, presidente do PT, de articular uma guerrilha digital contra a revista utilizando Twitter (com um recurso infográfico, inclusive) e redes sociais:

"A internet aceita tudo. Chantagistas contrariados fazem circular fotos de atrizes nuas (vide o caso Carolina Dieckmann), revelam características físicas definidoras (“minimocartaalturareal1m59cm”), apelidam sites com artigos do Código Penal (“171”, estelionato) e referenciam-se em doenças venéreas -- por exemplo, na sífilis (grave doença infecciosa causada pela bactéria Treponema pallidum) -- para formar sufixos de nomes. É lamentável sob todos os aspectos que uma inovação tecnológica produzida pelo engenho, pela liberdade criativa e pela arte, combinação virtuosa só possível sob o sistema democrático capitalista, baseado na inovação, na economia de mercado e na livre-iniciativa, tenha nichos dominados por vadios, verdadeiros limbos digitais onde vale tudo -- da ofensa pura e simples a tentativas de fraudar a boa-fé dos usuários. Cidadãos que se sintam atingidos por epítetos como esses acima, que vagam pela internet, infelizmente, não têm a quem recorrer."

Raras são as vezes na história desse país em que se lerá em letras caras a postura política dos homens por trás da Veja como neste pequeno trecho. Aqui encontramos claramente a filosofia política por trás da Veja: ela é a defensora do "sistema democrático capitalista, baseado na inovação, na economia de mercado e na livre-iniciativa".

E, numa megalomania assustadora, cada vez mais, a Veja posa de defensora de algo quando, na verdade, ela deveria se preocupar em SE defender.

A Veja assume para si um discurso até raso, mas que é estratégia clássica para qualquer rato sem saída, num misto de maquiavelismo e contra-argumentação falaciosa.

Num outro momento do texto, surge a tradicional visão clássica civilizatória, que pensa a nação americana como o centro filosófico, político e cultural do ocidente: "Em algum momento, essas diatribes precisam ser atenuadas, pois nem os filtros disponíveis nos programas de mensagens são capazes de impedir essas distorções que tanto atrapalham a funcionalidade e minam o gigantesco potencial civilizatório da fenomenal invenção nascida das melhores cabeças científicas e comerciais dos Estados Unidos da América."

Não apenas é assustadora a associação direta de "cabeças científicas" com "comerciais" - porque, de fato, o pensamento eminentemente capitalista e neoliberal prevê que uma coisa só pode existir em benefício da outra -, mas a insistência em um alarmismo paranóico que tenta fazer o leitor crer em uma articulada organização que visa perseguir e censurar. Paranóia sempre funcionou melhor que informação, e é assim que o sensacionalismo substitui a busca pela verdade nos fatos. Datenas chovem nas tevês com a mesma estratégia, gritando palavras de "justiça" que deixariam qualquer Olavo de Carvalho orgulhoso.


O mais legal é que a Veja distorceu tudo, descaradamente. O suposto robô de que ela fala, que estaria sendo usado por petistas para o tuitaço é um ser humano e já foi até entrevistado:

http://altamiroborges.blogspot.com.br/2012/05/mentira-da-veja-sobre-os-robos.html?spref=tw

E, lendo o texto que aqui reproduzi, dá pra repensar o final da matéria da Veja:


A utilização massiva da internet, das redes sociais e de blogueiros amestrados faz parte das táticas de engodo e manipulação da verdade no Brasil. Internautas, fiquem de olho neles.


De olho em manipulações, Veja? Diante da acusação a sua única estratégia é empurrar uma a paranoica teoria da conspiração via Trending Topics? Isso realmente é tudo que a revista mais lida do país pode fazer para se defender? Jânio teria orgulho, viu?


Mas o baluarte da moral e dos bons costumes, Reinaldo Azevedo, já defendeu o seu palanqueA estratégia da ridicularização é tradicional deste blogueiro, que acusa os outros de sujos mas chafurda na lama da própria publicação. Ele distorce o que a própria revista disse em prol do que a revista quer defender. O discurso é o não dito pelo dito.


Mas a análise aprofundada desses episódios -- e em especial daquele identificado pelo marcador #vejabandida -- mostra que dois artifícios fraudulentos foram usados para fingir que houve adesão enorme ao movimento. Um robô, que opera sob o perfil “@Lu-cy_in_sky_”, foi programado para identificar mensagens de outros usuários que contivessem os termos-chave dos tuitaços, replicando-as em seguida. Além disso, entraram em ação “perfis peões”, ou seja, perfis anônimos, com pouquíssimos seguidores e muitas vezes criados de véspera, que replicam sem parar mensagens de um único tema (ou melhor, replicam-nas até atingir o limiar de retuítes que os tornaria visíveis aos mecanismos de vigilância de fraudes do Twitter.


Funciona assim: me perguntam se eu acredito em Deus, e eu digo que não. Depois afirmam que eu acredito em Satanás porque não acredito em Deus, pois uma coisa é o oposto da outra, logo é o lógico, certo? Da mesma forma, podem dizer que eu acredito na divindade como conceito, mas não no Deus cristão, pois o Deus assim, com maiúscula, não é sinônimo de Shiva, Rá ou Alá, mas apenas do Deus Cristão. Como não dei uma informação completa - porque, em verdade, a afirmação deveria se bastar -, a "lacuna" permite que preencham-na da maneira que aprouver ao interesse de quem interpreta a afirmação. E isso vai ser tido como verdade para quem quer ler assim.


Interessante é que o próprio blogueiro em outro texto de seu blog afirma que esses robôs são "pessoas que não existem":


No Twitter, como deixa claro a reportagem da VEJA, a realidade não é diferente. Também ali, tuitaços são organizados por gente que participa do jogo político, e robôs se encarregam de multiplicá-los por intermédio de perfis praticamente sem seguidores. São “pessoas” que não existem. Nas respectivas áreas de comentários dos sites noticiosos, você pensa estar debatendo com um outro homem ou mulher-célula (como você), com um indivíduo (como você), e, na verdade, está a enfrentar um militante ou um militonto partidário que representa uma legião. É absolutamente legítimo que as pessoas tenham partido e até mesmo que o defendam na rede. Mas não é legítimo que o tuiteiro esteja a cumprir uma tarefa da máquina partidária — a menos que se identifique como tal. Você pensa estar, no Twitter, aderindo a uma causa surgida na rede e, na verdade, é apenas peça passiva de manipuladores.


Posso interpretar esse "pessoas que não existem" como uma contradição dele, não? O que é mentira e o que é interpretação no caso? Porque a interpretação alheia baseada nos fatos recolhidos, ou seja, a entrevista com a tal @Lucy_in_Sky_, não é interpretação, mas mentira e a afirmação que ela é um robô é mentira e não interpretação.


E esse escudo Reinaldo Azevedo é apenas um dos escudos que a Veja utiliza. A publicação semanal, da banca de jornal, é ainda mais baixa.





O "verniz democrático" da Veja está presente, ainda, na capa da revista nessa semana, que - como todo bom conservador acuado - usa a sua bíblia, a constituição, para fazer valer os seus gritos desesperados. A constituição - ou carta magna, como gostam de dizer os conservadores - serve ao reacionário como a Bíblia serve ao religioso: é a suprema norma, que é usada sempre mais em defesa de seus interesses que em defesa dos interesses comuns; a estratégia é que se advogue que ela sempre defende os interesses comuns, pois é uma palavra de uma autoridade superior a nós. Logo, ao invocá-la, necessariamente seus interesses privados se tornam os interesses comuns. Nem sempre  é possível que uma lei ou conjunto de leis possa ser lida literalmente mas, no caso, tomada dogmaticamente, ela é usada de tal forma como arma contra o "inimigo", seja ele o demônio ou o comunista. E todos se irmanam contra o inimigo, pois querem estar do lado da palavra, e assim viram massa de manobra de interesses alheios. E a Veja assim procede, como se a luz fosse ela, última na escuridão da sociedade brasileira.

A estratégia da Veja é baixa e sem precedentes na história desse país. É só ler o próprio texto postado na página da revista, que mais uma vez distorce as acusações em prol de defender uma visão enviesada do que é a "liberdade" a "democracia".


A frase de efeito do início diz tudo: “A ética do jornalista não pode variar conforme a ética da fonte que está lhe dando informações. Entrevistar o papa não nos faz santos. Ter um corrupto como informante não nos corrompe.”

Essa afirmação está corretíssima, óbvio ululante. É como dizer que o meu papel é ser do bem. Qualquer um compra, é fácil.

É como um político. Todo o político é a favor de que se invista em agricultura, saúde, educação, trabalho e segurança - os cinco dedos do FHC, lembra?


E quero ver ainda um político dizer que não vai investir em qualquer uma dessas cinco coisas! E, da mesma forma, qualquer um sabe que sua ética não deve variar de acordo com quem te dá informações, porque o contrário disso é ser LEVIANO! É como dizer, ainda, que você é contra a violência sexual contra mulheres! Quem é a favor é CRIMINOSO, não?

Mas a demagogia serve ao discurso da "ética" e da "liberdade de expressão".

E, aliás, quem a Veja é pra falar em liberdade e em censura? Quem está censurando a Veja? Sua cúpula está sendo acusada de um CRIME, não é censura isso, é investigação! Investigação da Polícia Federal, que levou ao fato documentado de que a cúpula da revista tem relações íntimas com o Carlinhos Cachoeira e que a revista servia de veículo para seus interesses.

Mas a revista, no auge dos ataques contra seus supostos aliados, se fez de cega e apostou em outras capas, com assuntos diversos. Isso não é manipulação... isso é sonegar informação a seu leitor. Leitor que acreditou que o Arruda era a melhor opção para o governo. Arruda... aquele que após violar o painel do senado "deu a volta por cima".




Ah, a nota na frente da imagem se refere ao empenho no valor de R$ 442.462,50 que o governo de Arruda assinou para comprar assinaturas da revista Veja com o dinheiro público do Distrito Federal.

A Veja que, aliás, elegeu como mosqueteiro da ética o senhor Demóstenes Torres, aquele que é amigo do Cachoeira.



(Lembrando que, para a Época, ele também é um homem de "princípios e convicções".)

Meu problema em si nem é com o crime. Este, se foi cometido, será julgado e, espero, os responsáveis punidos. Meu problema é em uma revista como a Veja defender liberdade e ética. Como bem disse o Mino Carta em um texto publicado hojeEle se refere ao editorial do Globo de hoje“Roberto Civita não é Rupert Murdoch”, uma peça de corporativismo digna, sei lá, de comunistas (camaradagem é coisa de comuna, né?)! E, claro, ataca o filhote mais querido de Mino, a Carta Capital. Bem, eu sei que há de se duvidar sempre dos dois lados, mas não posso deixar de concordar com o trecho a seguir:

Vamos, de todo modo, à vezeira acusação de que somos chapa-branca. Apenas e tão somente porque entendemos que os governos do presidente Lula e da presidenta Dilma são muito mais confiáveis do que seus antecessores? Chapa-branca é a mídia nativa e O Globo cumpre a tarefa com diligência vetusta e comovedora, destaque na opção pelos interesses dos herdeiros da casa-grande, empenhados em manter de pé a senzala até o derradeiro instante possível.

Sim, porque Gilberto Freyre saberia identificar claramente esses sinhôzinhos que enxergam qualquer possibilidade de perder seus espaços como afronta, atentado e terrorismo. Não sou a favor do que o PT se tornou, mas não sou cego quanto ao que o governo de Lula e Dilma representam perante ao mundo de FHCs, Collors e (urticária) os milicos.

A senzala interessa à Veja, tanto que lemos em seus textos palavreado digno de nojo de tão incompreensíveis (Olavo de Carvalho feelings, again).

Nesse caso nem assusta que o blog de política da Veja seja intitulado Maquiavel. Pra revista, a defesa de sua liberdade e ética é mero maquiavelismo (lembrando que nada isso tem a ver com o Nicolau): os fins justificam os meios. E, como já Napoleão o fez, a Veja se acha o Príncipe. E para esses príncipes, os fatos

E, como bem diz o blogueiro (sujo, né Reinaldo?) Rodrigo Vianna:
Fatos não são o forte de “Veja”: dólares para o PT trazidos em caixas de whisky (que ninguém nunca viu), contas no exterior de gente ligada ao lulismo (jamais  encontradas, mas noticiadas como verdadeiras), queda de Hugo Chavez em 2002 (comemorada antes da hora,  com uma capa vergonhosa), grampo sem áudio (hoje, graças a outros grampos com áudio do esquema cachoeira, sabe-se porque o grampo sem áudio virou notícia na “Veja”)…


Aliás, aconselho muito a leitura desse texto do Vianna. Ele mostra como a Veja foi capaz de acreditar no Boimate: o cruzamento de um boi com um tomate! Não é de se espantar, haja vista que é a mesma revista que ainda vive na guerra fria e acusa seus inimigos de serem comunistas leitores de Gramsci! Sim, todo inimigo do "sistema democrático capitalista, baseado na inovação, na economia de mercado e na livre-iniciativa" é um Trotskista. E existem desses em toda esquina, esperando pra comer criancinhas indefesas. A inovação do capitalismo não impede a Veja de acreditar em um complô comunista via internet contra a revista. E quem vive no passado é militante de esquerda, né?

É Veja... mas que quiprocó, héin?