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domingo, 16 de setembro de 2012

Diga-me com quem andas...




Todos que me conhecem sabem que eu sou leitor da Carta Capital. Acho que, nesse jornalismo semanal que se estabeleceu no país, ela é a melhor das revistas, até porque o parâmetro de comparação (Veja, Época e Isto É) é muito baixo, e está diretamente ligado ao lado da balança com a qual eu não me afino. Desculpem aqueles que não acreditam nisso, mas eu sou de esquerda e sempre vou ter mais simpatia com essa cara da moeda filosófica ocidental que com a velha coroa. De qualquer forma, me assustei ao ler o texto de Marcos Coimbra sobre o julgamento do suposto mensalão.
Não, eu não acredito na tese de que tenha existido o mensalão nos moldes que a mídia apregoa. Não acho, ainda, que todos os acusados sejam realmente tão criminosos quanto se quer. Odeio esse pré julgamento, que já decidiu que todos são culpados porque são políticos, não porque são suspeitos. Acreditar na tese de uma corrupção plena e irrestrita que comanda toda a política nacional é ser tão massa de manobra quanto achar que x ou y são inocentes. As pessoas não percebem, mas a desilusão política substituiu o senso crítico no país de tal forma que a única coisa discutida é a corrupção. Não se debate o sistema que leva a corrupção, como está estruturada nossa política e como conduz-se o modelo eleitoral brasileiro. O mensalão e todo e qualquer caso de corrupção são tratados sempre (e a mídia é a mola mestra disso) como ESCÂNDALO. Ou seja, tem a mesma profundidade que a próxima escapulida do Adriano de um treino do Flamengo.

Por isso eu não compro a tese do mensalão como ela se apresenta. Mas também não sou cego ou burro: algo aconteceu. O que, para os articulistas da Carta Capital, os pôs numa complicada berlinda.
Eles são apoiadores irrestritos do governo do PT, como eu sempre fui. Isso não é problema, aliás. Eu gostaria que todos os veículos assumissem a sua diretriz ideológica e seus candidatos como a Carta e o Estadão fazem, cada um pro seu lado. Mas ninguém pode simplesmente negar o que está acontecendo pelo simples fato que seus aliados podem estar caindo. Ao fazer isso, a Carta Capital e o seu articulista não se diferenciam tanto de Veja e seu feroz cão de guarda, o Reinaldo Azevedo.
Se a suprema corte brasileira, o STF, é o único detentor do direito de julgar de verdade o caso e não a mídia, como sempre apregoa Mino Carta, por que agora se ataca o STF? Porque se faz julgamentos ad hominem, procedimento adotado pela própria Veja e tão criticado pela mesma Carta? A que propósito se coloca o texto de Marcos Coimbra senão defender os interesses de seus patrões, tão envolvidos com PT quanto a Veja com os Democratas e Tucanos?

Uns fazem saber que andam de motocicleta, outros que são exímios músicos, alguns se apresentam como poliglotas. Identificamos seus times de futebol, os restaurantes que frequentam. Às vezes, até seus negócios e os ambientes inadequados que frequentam.

Eu concordo que há uma espetacularização excessiva em tudo na nossa mídia. Mas isso permite que ponhamos em dúvida a lisura dos ministros por eles aparecerem em demasia na mídia? Ou é apenas uma maneira de descaracterizar o julgamento, esvaziando o sentido dele e permitindo apenas uma visão do que ocorre? O que dizer do Joaquim Barbosa, que de herói da revista virou vilão após decidir condenar os "mensaleiros"? Quer dizer que a Carta apoiará Gilmar Mendes se esse decidir não punir ninguém?
A única coisa que realmente temos que ficar atentos é se os juízes estão cumprindo seu papel de julgar, não aplaudir quando se faz a justiça que queremos de um lado ou de outro. Não sou também imbecil de achar que a nossa corte é incorruptível, mas de que adianta apenas defender a corte quando ela julga pro seu lado? Eu não acredito na inocência de metade das pessoas ali e, pra ser bem sincero, acho que nem o Zé Dirceu é 100% inocente, apesar de não termos provas contra ele. É desonestidade, pra mim, criticar a Veja por colocar o Marcos Valério em sua capa acusando o Lula de chefiar a "quadrilha" e depois desmerecer o supremo por absolver o João Paulo Cunha só porque este é "amigo do chefe". Escolher como capa um problema que desvia o foco do assunto principal ("O amianto mata") para proteger os seus patrícios condenados parece não ser mais estratégia apenas da Veja.
Por isso temos essa visão infantil da política nacional: porque nossos veículos informativos confundem ideologia com patriciado. Eu ainda tenho muito respeito pela revista sim, sou seu leitor, mas eu me não sou burro. Espero que a Carta perceba seu erro e não caia nos mesmos erros dos semanários que tanto tem criticado pelos anos. Pelo bem do país.

domingo, 8 de julho de 2012

Complexo de Corno

http://blogdoenorerodrigues.blogspot.com.br/2012/06/mensalao-mensalinho.html


Hoje postei algo no facebook e, pensando um pouco, vi que podia estender minha observação.

Um texto do colunista da Carta Capital, Marcos Coimbra, me chamou a atenção hoje. Como é fácil julgar um livro pela capa, sempre nesses casos, parece necessário fazer um mea culpa e lembrar do apoio claro dessa revista ao governo do PT. Essa necessidade de "hipocritizar" a minha fala é exigida pelos que, em geral, ou não sabem diferenciar o joio de do trigo ou que praticam o esporte de relativizar tudo. Isso posto, agora sim posso expor a minha opinião "não-hipocritizada" da penumbra que se instaurou na política nacional quanto à corrupção.

Quando se ouvia falar em corrupção no Brasil, até 2003 mais ou menos, não tínhamos um sinônimo tão forte para esse ato quanto a palavra "mensalão". O termo cunhado sobre uma ideia de que havia uma ação mensal de pagamento de propinas, uma "mensalidade", é muito melhor explicado e estudado pelo autor que citei acima em seu texto.

Mas, há uma penumbra sobre o mensalão. Não sobre todo ele, mas sobre o que tange a esfera oposicionista dele. O sistema sobre a qual se moldou nossa política faz com que quem está na oposição sempre seja a promotoria da situação: quando era o PT a promotoria, eles fizeram essa penumbra, obviamente sobre suas ações. E, como agora a oposição é formada por PSDB e DEM, que eram a situação, eles fazem essa penumbra. 

O problema é que, na política atual, uma coisa desemboca na outra. O Suposto "mensalão do PT" nada mais é que uma consequência da aderência do Partido dos Trabalhadores ao modus operandi já instituído entre seus adversário na época que estes eram a situação. É o que torna nossa política podre e, em suma, é ocasionado por um método pragmático de conduzir as ações, fruto do próprio sistema capitalista, onde a ideia da mais valia se alia a que "os fins justificam os meios", num maquiavelismo (desculpe Maquiavel) de mercado. Assim se justifica leiloar seu partido, ou aceitar participar do leilão de um, por influência - sim, estou falando da conjunção PT e PP, ou melhor, Lula e Maluf. Quando as ações se pasteurizam em função de resultados objetivos a curto prazo, o imediatismo suplanta a ideologia e o pragmatismo vence.

http://naoabandoneseumelhoramigo.blogspot.com.br/2012/06/bandido-sempre-apoia-bandido.html
Por aderir a esse modelo, criou-se um efeito de "rejeição" muito maior em relação ao PT que aos seus opositores, pois o PT era a mistura perfeita de um investimento ideológico e uma conquista política. Os anos de espera da população por um governo que significasse a real vitória da democracia foram longos, e os governos pós ditadura só fizeram os problemas derivados desta se intensificarem, como a inflação. Ainda, se fez democracia, para muitos, a partir do momento que o PT subiu ao poder, pois foi a primeira real alternância desde a malfadada eleição do Tancredo. A partir daí, todas as eleições foram uma sequência de insucessos: Collor deposto por corrupção; Fernando Henrique cria o Real, se reelege, mas a economia não se sustenta; Lula vem... e temos corrupção. Para o cidadão que votou em Tancredo, Collor e em Fernando Henrique, o voto em Lula era a última esperança... Não falo aqui de quem votou sempre no Lula, porque é diferente. Mas o caso é que, a queda mesmo que de apenas uma parcela do PT e a subsequente "vista grossa" de Lula com o caso gerou um sentimento: traição. E não há sentimento que gere mais rancor que o sentimento da traição, em qualquer relacionamento. Muito do que vemos de ataques ao PT, de ódio mesmo, é fruto de uma sensação de traição. De um lado, aqueles que sempre apostaram no partido e, quando este chegou no poder, viram o mesmo agir como seus adversários; do outro, aqueles que nunca apostaram mas, ao decidirem dar o seu voto de confiança para o Lula uma vez e se verem traídos, reforçaram preconceitos e criaram novos.

O problema não está, em si, no PT ser ou não corrupto. A política nacional, aliás, passa muito mais tempo discutindo corrupção que ação. Como bem argumentou o Vladimir Safatle (sempre ele), num excelente artigo para a mesma revista:



Há várias maneiras de despolitizar uma sociedade. A principal delas é impedir a circulação de informações e perspectivas distintas a respeito do modelo de funcionamento da vida social. Há, no entanto, uma forma mais insidiosa. Ela consiste em construir uma espécie de causa genérica capaz de responder por todos os males da sociedade. Qualquer problema que aparecer será sempre remetido à mesma causa, a ser repetida infinitamente como um mantra.
Isto é o que ocorre com o problema da corrupção no Brasil. Todos os males da vida nacional, da educação ao modelo de intervenção estatal, da saúde à escolha sobre a matriz energética, são creditados à corrupção. Dessa forma, não há mais debate político possível, pois o combate à corrupção é a senha para resolver tudo. Em consequência, a política brasileira ficou pobre.



http://blog.bytequeeugosto.com.br/como-funciona-um-militante-brasileiro/
Uma demonstração de como esse "complexo de corno" quanto ao PT fez mal à nossa política é notarmos não apenas o crescimento no nosso país do coro demagógico e desinformado dos inconformados contra a corrupção mas também o dos apolíticos.
Um exemplo pessoal: na minha universidade, a cada ano, vejo crescer o número de pessoas que são contra movimentos, de qualquer tipo. Não, não contra movimentos de esquerda, mas contra o ato de se mobilizar. A ideia, sem qualquer nexo com a realidade, é que a mobilização tira o estudante de seu foco real de ação, que é estudar. Apesar de eu saber que o movimento estudantil, por diversos equívocos e politicagens, comete diversos erros de logística (pontuais, a meu ver, mas sérios e que criam uma imagem errada do movimento), na prática, o problema desses estudantes reside no fado de que eles encaram o curso de uma universidade como quatro anos de estudo - e festa, porque sem festa não se vive - em prol de ganhar uma profissão no fim dele (materializada no diplominha) e poder ganhar dinheiro com essa profissão para manter-se na mesma boa vida de quando são sustentados pelos pais. Não me venha dizer que a vida é só isso, ainda mais a universitária. Quem pensa assim age com o mesmo tipo de pragmatismo que critica na aliança PT+PP...
Há um conforto em ser alienado, em conformar-se com a situação e ver-se num mundo "obrigatoriamente corrupto" e, de tal modo, sem solução. Aquela ideia de tentar viver bem "apesar de". Eu, apesar de muito me decepcionar e de ser pessimista e realista com diversas coisas, não consigo me entregar a esse tipo de conformismo. 
Esse pessimismo (à lá Pondé), pra mim, é uma arma muito útil na mão de quem sabe manipular o pensamento... toda alienação é.
É como um homem que acha estar sendo sempre traído pela mulher e por isso a trata mal, mas faz vista grossa pras traições dos amigos e, muitas vezes, ele também trai. O cara sempre vem com o discurso de que "ah, as coisas são diferentes." Daí, quando descobre a traição da mulher ele não associa o próprio comportamento como motor da traição, mas apenas condena o ato e a esposa. E vai sair por aí dizendo (e achando) que trair é da natureza feminina. Não é apenas hipocrisia e preconceito... é auto-alienação passiva e burra.E aí caímos no terreno do joguete político: não apenas a atual oposição usa esses sentimentos da população de arma, como de escudo para as suas próprias falcatruas de agora e do passado. Se o PT tem que ser punido pelo envolvimento com o mensalão, por que quem já fez (e faz) parte desse esquema não deve ser punido?
Porque só o mensalão do PT é traição, o dos outros é "modus operandi".

Usando um jargão imbecilizante, típico de quem não pensa: Freud explica.